As montadoras adoram relembrar Fusca, Opala, Gol e outros sucessos de venda. Mas, para deixar desconfortável um executivo das fábricas automotivas, basta tocar em alguns veículos que se tornaram verdadeiros fiascos de vendas. Selecionamos oito, mas é claro que a lista tem muito mais. Mercedes Classe A, VW quatro portas (Zé do Caixão) e Ecosport Supercharger 1.0 estão entre os dezenas (talvez centenas) de veículos não citados na matéria. Muitos não eram ruins, mas foram vítimas de iniciativas erradas ou lançados no momento errado. Certamente você conhece vários outros. Aproveite para comentar sobre eles.
Troller Pantanal – Em 2006 no Brasil, a fábrica imaginava vender 1,2 mil unidades por ano. Até 2008, quando retirou a picape de linha, haviam sido comercializadas 77. O veículo tinha problemas estruturais. Quando comprou a empresa, a Ford anunciou o recall e alertou que o chassi poderia partir com o veículo em movimento. Os americanos desistiram de consertar as unidades que chegaram e devolveram aos compradores o dinheiro pago na Pantanal – o material recolhido foi usado para sucata. Alguns proprietários não entraram em acordo e queriam ficar com o veículo. A Ford topou, desde que o dono assinasse um documento se responsabilizando por danos. Houve algumas pendengas jurídicas. Hoje, o exemplar da Troller é raríssimo.
Dodge Polara – Muita gente com menos de 35 anos nunca viu um na vida. Mas ele existiu – para desespero de alguns compradores, que tiveram muitos problemas com o motor da primeira versão trazida ao país, em 1973. Propulsor (77 cavalos) e câmbio eram frágeis, bastante diferentes da tradição Dodge. Ano a ano os problemas foram corrigidos e, em 1979, o veículo oferecia transmissão automática e carburador de corpo dublo. Porém, no mesmo ano, o controle da Crysler brasileira passou para a VW, que encerrou a produção do Polara dois anos depois. No período, foram vendidos no país pouco mais de 90 mil unidades.
Vectra GT – O hatch de porte médio foi comercializado no Brasil de 2007 a 2011. Derivado do Opel Astra H, que já havia sido descontinuado na Europa, compartilhava várias peças do Astra nacional. Seu primeiro motor, o 2.0 de 128cv, herdado do Monza, era fraco – grande parte da cavalaria se perdia pelo caminho antes de chegar às rodas. Depois, chegou a ter 140cv, mas com a má fama, já era tarde para tentar uma recuperação. Deu lugar ao Cruze.
Daewoo – Primeira marca coreana que realmente pintou com força no Brasil, a montadora entrou e saiu sem deixar grande lembrança. Uma das apostas era o sedã Lanos Espero, que não vingou. Encontrar virou raridade – porém, os preços são baixos. Revendê-lo é tarefa quase impossível, a não ser que seja para um colecionador.
Seat Cordoba/Ibiza – Playboys dos anos 1990 vibravam com a marca espanhola, que de 1995 a 2002 trouxe dois veículos para o Brasil pelas mãos da VW, de quem foi comprada. Mas a logística, aparentemente, foi péssima: ficavam expostos em “puxadinhos” da VW. Os veículos foram desenhados pelo mesmos engenheiros do Golf e o Ibiza usava a plataforma do Polo. Enfrentaram no Brasil dois problemas: aumento dos impostos para importados e alto custo das peças de manutenção. Quem tem um, dificilmente vende – até porque achar compradores não é tarefa fácil.
Ford Mondeo – Sucesso na Europa, nos EUA, na Ásia e, no Brasil, um fracasso! Foi vendido aqui de 1995 a 2006. Tinha tudo o que se poderia esperar de um sedã de luxo. Em 1999, contava com respeitáveis 170cv. Dois problemas o “queimaram”: porta-malas com apenas 371l e carroceria baixa, não adaptada às péssimas ruas brasileiras, que fazia o para-choque dianteiro raspar em qualquer saliência. Sucumbiu, assim como o antecessor Versailles, que embora fosse da Ford, era feito nas dependências da VW, na linha de montagem do Santana, durante a malfada parceria entre eles, a Autolatina. Na mesma época, o VW Apollo, Logus e Pointer eram montados na linha de produção da Ford.
Ford Courier – Amante de picapes, os brasileiros não engoliram a Courier, embora ela tenha ficado no mercado de 1996 a 2013. Grande parte foi por seu primeiro motor, o 1.3 de 60cv – dá para imaginar como andava com peso na caçamba. Ela ocupou o lugar da Pampa, que tinha versão 4x4 e foi líder de vendas da categoria. Mas o design antiquado da sucessora nunca atraiu os jovens. Acabou sendo engolida pelas rivais.
Lada Laika – Importado entre 1990 e 1995, foi o menor dos fracassos – vendeu quase 70 mil exemplares. Seu grande rival talvez tenha sido o Gurgel (outro que não prosperou, mas é um capítulo à parte). Barato e rústico, o veículo não suportou a gasolina nacional. Taxistas foram grandes consumidores, mas a maioria se arrependeu, pois até trocar o carburador, muitos entravam e saíam das oficinas.