A barreira pode ser o medo, o desconhecimento, o desinteresse ou a insegurança. Quem ainda não tem perfis em redes sociais se justifica apresentando suas razões, mas não é difícil entender por que alguém decide, enfim, adentrar esse universo. Se bem utilizadas, essas plataformas são úteis para conectar pessoas e fornecer acesso a informações necessárias no dia a dia.
Especialistas da área de inclusão digital para a terceira idade dão dicas importantes para quem está começando. Nas aulas do professor e palestrante Guilherme Menezes, fundador da Integrar Gerações, um questionamento recorrente entre os alunos é: “Rede social é uma aliada ou uma inimiga?" De fora, tem quem julgue ser um ambiente “só de fofoca”. Do lado de dentro das comunidades virtuais, há os que se decepcionam com o conteúdo que passa pela tela e abandonam ou não o utilizam da melhor forma.
— É natural porque os idosos não tiveram um aprendizado anterior. Começaram tarde e ainda estão começando, têm muita dificuldade, ouvem falar dos golpes — explica Menezes. — Se você souber utilizar sua rede social da forma adequada, terá segurança. Se configurada de forma bacana, o que vai aparecer são pessoas e coisas em que você tem interesse. Entendendo a rede social, você consegue tirar o melhor proveito. Temos que desmistificar essa ideia de que é perigosa — completa.
Começar com um círculo de poucos contatos é a sugestão de Marco Mangan, professor da Escola Politécnica e da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Construir esse espaço online devagar ajuda a evitar uma sobrecarga de informações.
— Adicione pessoas que você conhece pessoalmente. Isso vai oferecer um ambiente mais seguro para essas experiências — recomenda Mangan, doutor em Engenharia de Sistemas e Computação.
Entender o ritmo das interações em redes sociais é mais um ponto a ser aprendido. Mangan alerta que quem tem muito tempo livre pode acabar exigindo demais de seus interlocutores ao enviar um excesso de mensagens. Para evitar descompassos, é importante encarar essa comunicação como um jogo de pingue-pongue, em que cada um toca na bola de uma vez, com a alternância entre um lado e outro da rede.
— Tem pessoa que responde imediatamente, e outra leva uma semana. Tem que dar espaço. Não é um telefone, com resposta imediata. É como se fosse uma carta: você manda, e o destinatário vai abrir em outro momento — exemplifica Mangan.
Manter perfis online é uma prática fundamental para reduzir o isolamento, que tende a se aprofundar na velhice. Menezes destaca que é uma forma de o idoso estar presente, “próximo” da família, vivenciando o que os netos ou os filhos estão fazendo.
— Saber utilizar as redes sociais traz independência. Não usá-las é ficar praticamente sem comunicação — observa Menezes.
"Ter liberdade é muito bom"
Cristina Fernandes Reali, assistente social aposentada de 72 anos, tem aulas semanais de inclusão digital. Ela costuma apresentar suas demandas e necessidades ao professor, incluindo uso de redes sociais e aplicativos diversos, produção de cartões, elaboração de planilhas etc.
— Para mim, é uma maravilha. Sempre temos assunto. Gosto de mexer em tudo — diz Cristina.
Entre as redes sociais, a preferida de Cristina é o Instagram, em que acompanha perfis variados, faz pesquisas e busca textos de temáticas do seu interesse, como a terceira idade. Manter-se em contato com as outras pessoas e também atualizada sobre o que se passa no mundo estão entre seus principais objetivos.
— Ser independente foi um fator que sempre me levou a tudo, foi minha meta desde que nasci. Ter liberdade é muito bom — justifica.
Comece devagar
- Descubra que rede social a maioria de seus familiares e amigos está e inicie por esta
- Comece devagar. Crie um círculo pequeno de contatos, formado por pessoas que você conhece pessoalmente
- Não é necessário responder e comentar tudo o que aparecer na sua linha do tempo. Desobrigue-se de dar retorno para todos para que o tempo passado na rede social não se transforme em um ritual de cumprimento de obrigações
- Transponha algumas das conversas da esfera virtual para a presencial. Você pode comentar aquela viagem tão bacana de sua amiga quando encontrá-la pessoalmente
- Além de comentar em uma postagem pública, você também pode optar por se dirigir a alguém por meio de mensagem privada, a que apenas o destinatário terá acesso
- Evite participar de discussões exaltadas e não responda a provocações e comentários agressivos. Lembre-se de que há uma “plateia” acompanhando tudo o que é publicado
- Cada um tem um ritmo. Há pessoas que respondem em poucos minutos, enquanto outras dão retorno apenas no dia seguinte. Não fique chateado caso alguém demore para fazer contato
- As fotos postadas podem transmitir informações sobre o local onde você está. Evite publicações em tempo real por questões de segurança
- Manifestar-se por meio de uma reação (curtir, rir, ficar triste ou zangado) ou postando um emoji (“carinhas” que simulam emoções) são formas rápidas e eficientes de participar e se mostrar atento ou presente. Não é preciso elaborar um texto para cada manifestação que você deseja fazer
- Golpistas criam perfis falsos para interagir online. Desconfie de pedidos de ajuda e, principalmente, de solicitações urgentes. Telefone para a pessoa que estiver conversando com você para verificar se é ela que está fazendo contato pela rede
- Nunca forneça seu endereço