Enquanto ouvia os companheiros falando sobre o Sant'Ana, tentei fazer um inventário da minha vida e os contatos que tive com ele. Conheci o Sant'Ana quando ainda não conhecia o Sant'Ana. Isso tem muito tempo, eu era muito jovem, solteiro, e gostava de frequentar uma casa noturna chamada Chão de Estrelas.
Lá, ele aparecia seguido e cantava, e eu ficava pensando "quem é esse cara?". Não trabalhava em Porto Alegre, não o conhecia. Minha primeira lembrança é dele cantando. Vi ele interrompendo apresentações de teatro, de tango, quando pedia pra cantar, e todo mundo sabia quem ele era. Tinha o espetáculo em si, e o espetáculo do Sant'Ana.
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Tenho muitas histórias com ele, como todo mundo tem. Em 1982, na Copa da Espanha, não posso esquecer das noites em que ficávamos na varanda do hotel em que estávamos hospedados, bebendo, e ele cantava sambas do João Nogueira. Também dos dias daquela Copa restaram muitas recordações.
A Rádio Gaúcha alugou uma van, e o Brasil estava distante de Sevilha, onde estávamos, uns 30 quilômetros. Eu dirigia essa van, era repórter e dirigia, e diariamente ia eu, com o Sant'Ana a bordo, e o goleiro Leão. Íamos sacolejando pela estrada de terra, em meio aos girassóis, e ele ficava fazendo poesias a respeito da paisagem que via.
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Tínhamos uma confraria, e o Sant'Ana era integrante. Onde ele ia, deixava a marca de pelo menos uma história engraçada. Em um dos encontros, no Copacabana, o Emanuel Mattos começou a falar e contar uma história, e não parava, e o Sant'Ana ficou em silêncio, algo que ninguém conseguia fazer. De repente, ele pegou uma colher e deu nos dedos do Emanuel, que perguntou o que houve?
– É que você está falando mais do que eu – disse o Sant'Ana.
Porque, quando ele falava, todo mundo parava pra escutar. Ele sempre tinha coisas interessantes para dizer.