O jornalista Caio Cigana colabora com o colunista Tulio Milman, titular deste espaço.
Em um esforço para tentar demonstrar humildade, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu ontem desculpas por ter comparado servidores públicos a parasitas, na sexta-feira. Alegou que suas palavras foram tiradas de contexto, mas admitiu ter se expressado mal.
Mesmo que, no íntimo, possa até achar que não exagerou tanto assim, como principal nome do primeiro escalão da Esplanada Guedes tem de ter a responsabilidade de ser mais contido e pensar um pouco mais antes de ser tomado pela empolgação em falas públicas. Afinal, se o que o governo quer é aprovar a reforma administrativa, criar conflitos exatamente com o setor que vai apresentar maior resistência e tem poder de pressão está longe de ser uma boa estratégia.
Mesmo que o Congresso mostre propensão reformista, não é prudente contar que, outra vez, como no caso da Previdência, o parlamento vá matar no peito e aprovar o projeto do Planalto. A prioridade do Congresso é a reforma tributária e, devido às eleições municipais, o ano legislativo será mais curto.
O governo, nesse caso, parece fazer o papel que seria da oposição.
Guedes é considerado, por quem é crítico mas não inimigo visceral do governo, o principal expoente da ala do Executivo que não age por motivações simplesmente ideológicas. Tem ao seu lado uma equipe respeitável. Seria prudente que não queimasse esse capital. Afinal, não foi a primeira nem a segunda vez que escorregou nas palavras e criou controvérsias desnecessárias.
Há poucas semanas, em Davos, apontou a pobreza como maior inimiga do ambiente. Dois meses atrás, pediu para que não se descartasse a possibilidade “de alguém pedir um AI-5” na hipótese de radicalização de protestos de rua no Brasil.
Mais tato e comedimento fariam bem.