Tulio Milman
Esse adiamento do julgamento dos acusados pela morte de um garoto, espancado em Charqueadas há quatro anos, é um absurdo. Do ponto de vista legal, há pretexto para tudo. Teses, teses e mais teses. E quando elas terminam, começa o interminável desfile de recursos. Por isso, desprezo as artimanhas dos advogados e a fraqueza do sistema, que confunde amplo direito de defesa com possibilidades quase infinitas de protelação. Do ponto de vista do bom senso e da decência intelectual, tanto faz se Ronei Jurkfitz Faleiro Junior, 17 anos, tinha problemas de coagulação, motivo alegado – e aceito – para dissolver o júri. É justamente por isso que não se deve espancar pessoas: porque elas podem se machucar e morrer. O desatino de Charqueadas me fez lembrar Vladimir Herzog, assassinado nos porões da ditadura, em 1975. Depois de alegar que fora suicídio, chegaram a dizer que Herzog não resistiu à tortura porque era muito frágil. Uma boa inspiração para a defesa dos acusados pela selvageria que tirou a vida de Ronei.
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