Uma das grandes discussões em torno do futebol brasileiro nos últimos dias é o projeto de lei em tramitação no Congresso que pretende incentivar a migração das agremiações para o modelo de clube-empresa. A proposta ainda tem grande resistência, principalmente pela questão tributária, sem falar nos obstáculos culturais. De qualquer forma, caso a ideia avance, está prevista até a possibilidade de as companhias que administrassem os times abrirem o capital na bolsa de valores e venderem ações. Neste caso, torcedores e investidores poderiam adquirir papéis ligados às equipes e, assim, seriam donos de um pedacinho dos clubes.
O formato, que volta e meia retorna ao debate, não é incomum na Europa. E existe até na América do Sul. No Chile, os três principais times, Universidad Católica, Universidad de Chile e Colo Colo usaram o artifício para captar recursos. O pioneiro no mundo foi o Tottenham Hotspur, na Inglaterra, na década de 1980.
A paixão pode até se mostrar um bom investimento. Mas não em todos os casos. Três bons exemplos de rentabilidade são Juventus, da Itália, Benfica, de Portugal, e Borussia Dortmund, da Alemanha (ver quadro abaixo). No caso do time italiano, a valorização chega a 35% ao longo de 2019 e 193% nos últimos cinco anos. Nada mau. O Benfica tem um desempenho ainda melhor. As ações ligadas ao clube de Lisboa sobem 70% no ano. Em cinco, alta de 208%. Por outro lado, quem comprou papéis do Manchester United, listados nos Estados Unidos, amarga perda de 9% neste ano. Em 2012, os britânicos levantaram US$ 230 milhões com a operação.
Um estudo realizado em 2017 que avaliou a situação de alguns clubes da Europa mostrou que a oscilação não está necessariamente ligada ao desempenho em campo. Em muitos casos, concluiu o estudo, era a paixão – e não a racionalidade – que levava as pessoas a comprarem os papéis vinculados aos seus times.
A possibilidade de que os clubes virem sociedades anônimas ou limitadas, que está no projeto, abre espaço para que tenham um dono, como ocorre com outras grandes equipes do mundo. Mesmo que uma gestão mais profissional e transparente seja bem-vinda, difícil imaginar que isso aconteça, por exemplo, com a dupla Gre-Nal. Na Europa, também não é raro que investidores bilionários – russos, chineses, árabes – acabem comprando as empresas que administram os times. E mandando nas equipes. Seria admissível por aqui?