Baterias de provas e contraprovas realizadas em laboratórios especializados revelaram que vinhos produzidos na serra gaúcha têm três vezes mais resveratrol do que os rótulos europeus e sul-americanos mais vendidos no Brasil. Essa substância está presente nas sementes e sobretudo nas cascas das uvas tintas. Sua principal função é antioxidante – combate aos radicais livres – e também traz benefícios ao coração, ajuda a proteger contra a diabetes e contra doenças cancerígenas.
O presidente da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS), Orestes de Andrade Jr., apresenta uma tese para o fenômeno, vinculada ao fato de a Serra ser uma região úmida e inóspita para o cultivo de uvas tintas. "A hipótese preliminar era que, para sobreviver e frutificar, a videira da serra gaúcha produz mais resveratrol, para proteger a planta da ação de fungos", explica.
A análise foi feita pelo Laboratório Lavin, de Flores da Cunha, especializado em bebidas, a partir de uma provocação da ABS à Casa Perini. Foram comparados seis vinhos da serra gaúcha com 12 rótulos da Argentina, Chile, Portugal, Itália e França. Contraprovas foram realizadas depois em uma instituição pública. O Laboratório de Referência Enológica do governo do Estado do Rio Grande do Sul confirmou os resultados.
A coordenadora do Mestrado Acadêmico em Biociências e Reabilitação do Centro Universitário Metodista (IPA), Caroline Dani, avaliou o estudo: "Não aparecem diferenças entre as variedades de uvas. O que importa para a maior concentração de resveratrol é a região mesmo". Caroline endossa a tese de que o motivo é o "estresse da videira".
O diretor da Casa Perini, Franco Perini, comemora a descoberta, embora não tenha se surpreendido. "Sempre vimos estudos que falavam do diferencial dos vinhedos da serra gaúcha, que precisam ser mais fortes para produzir uvas de qualidade", afirma. Agora, inédito estudo comparativo jogou luzes definitivas sobre a questão, que já havia sido tratada anteriormente, mas nunca dessa forma . E sempre vale o alerta: beba com moderação e só se for maior de 18 anos.
Os rótulos avaliados
Importados: Cosecha Reservado 2018 (0,77 mg/L), Etchart Malbec 2017 (2,15 mg/L), Periquita 2016 (1,17 mg/L), Corvo Roso 2016 (0,92 mg/L), Latitud 33 2017 (0,72 mg/L), Casa Silva Cabernet Sauvigon/Carmenèré 2017 (1,17 mg/L), Casillero del Diablo 2017 (0,54 mg/L), Reservado Concha Y Toro 2018 (0,89 mg/L), Santa Carolina Reservado 2017 (0,57 mg/L), Cartucha 2016 (0,74 mg/L), Baron D'Arignac (0,89 mg/L), Santa Helena Reservado 2017 (0,89 mg/L)
Da serra gaúcha: Arbo Merlot sem safra (3,52 mg/L), Arbo Cabernet Sauvignon sem safra (3,63 mg/L), Casa Perini Cabernet Sauvignon 2017 (3,01 mg/L), Casa Perini Merlot 2017 (3,15 mg/L), Fração Única Cabernet Sauvignon 2015 (4,57 mg/L) e Fração Única Merlot 2015 (3,18 mg/L).