Bom é fazer projeções quando o risco de errar é grande. Faltam 14 meses para as eleições municipais no Brasil. Durante a semana, conversei com políticos, especialistas em marketing e em Direito eleitoral na tentativa de estabelecer alguns contornos, mesmo provisórios, para o quadro da disputa que sacudirá – de novo, mas de um jeito diferente – o Brasil.
Começando pelas diferenças, as escolhas de prefeitos e vereadores serão as primeiras com financiamento público. Haverá engalfinhamentos, uma vez que os critérios para a distribuição das verbas são obscuros. É provável que o TSE estabeleça alguns parâmetros, mas serão insuficientes. O lógico seria repassar o dinheiro diretamente aos diretórios municipais, mas é pouco provável que a cacicada partidária abra mão de dar as cartas – e os pilas.
Também, pela primeira vez, será vedada a coligação nas chapas para vereador. Na prática, significa muito mais candidatos, a maioria só fazendo figuração.
Do ponto de vista político, o peso de Brasília será definidor. Se o governo Bolsonaro estiver bem, navegando nos bons ventos da eventual aprovação da reforma da Previdência, sobrarão palanques para o presidente. Se não, seus aliados de hoje farão de tudo para descolar as pautas municipais do Palácio do Planalto.
Seja como for, é improvável que Bolsonaro deixe de lado a lógica pela qual se elegeu e pela qual vem governando: amigos de um lado e, do outro, todos os demais, os inimigos. A polarização é um guarda-chuva do qual não nos livraremos tão cedo, especialmente nas campanhas das grandes capitais. Um dos interlocutores que serviu de fonte para esse texto jogou uma pulga atrás da minha orelha esquerda: talvez, daqui a um ano e três meses, os eleitores estejam cansados de briga e busquem uma alternativa mais ao centro. É uma hipótese. A eleição de Bolsonaro iniciou uma transição na política brasileira, depois dos anos FHC e da era PT, quando as forças estavam relativamente acomodadas e o centro, hoje implodido, impedia guinadas abruptas para qualquer lado. O estado das coisas de hoje é transitório e quem disser que sabe onde isso vai dar, é atochador.
Como a eleição é capilarizada, quanto menor a cidade, mais local o debate. Do ponto de vista da inteligência política, tanto o presidente quanto o governador – no caso, Eduardo Leite – mais perdem do que ganham quando entram nas disputas paroquiais. Leite tem uma base ampla na Assembleia. Quanto mais distante dos bate-bocas locais, melhor para ele. Em eventuais segundos-turnos, com campos mais definidos, o governador entra na dividida com mais segurança. Mas só se estiver pagando salários em dia, prestes a devolver o ICMS à normalidade e com a segurança pública minimamente operante. Sem isso, seu silêncio vira um baita cabo eleitoral. Bolsonaro é Bolsonaro. É guiado pelo instinto. E pelo Twitter.
Para finalizar, um pequeno toque pessoal. Acompanhei mais de 15 eleições na condição de jornalista. Jamais, em todo esse tempo, cobri duas com regras iguais. É um desastre para a democracia. Os tribunais não firmam jurisprudência e, até que uma interpretação se consolide, a norma caducou.
Candidatos, marqueteiros, fornecedores, lobistas e até mesmo jornalistas fazem bem em esperar. A nova dinâmica da política – sobressaltada, digital, sem tanto dinheiro e polarizada – impõe que a estratégia se defina junto com a tática, às vezes depois. Enquanto isso, candidatos dizem que não são candidatos e muitos dos que dizem que são, não serão. É o empurra-empurra pelo espaço que, mais lá na frente, será moeda de negociação. Com os partidos esfacelados, nomes pesarão mais do que siglas. Será um grande avanço se conseguirmos, na hora de votar, usar mais a razão e menos a emoção.