Eles não votam nem opinam mas, se pudessem, estariam felizes. Menos felizes do que se vivessem livres na natureza, mas dada a realidade de que muitos não sobreviveriam fora das jaulas, por não saberem se alimentar e se defender dos predadores, este é o melhor dos quadros. Entregar o Zoo de Sapucaia a quem entende do assunto é um gesto tão óbvio, que deveria ter sido desenhado há anos. Ainda faltam aparecer os interessados, o trâmite da papelada e as inevitáveis ações judiciais. Não há caranguejos em Sapucaia mas, se houvesse, até eles, dessa vez, bateriam suas garras em sinal de regozijo. Se esse edital de concessão do zoo, publicado hoje, fosse um animal, seria um bicho-preguiça – do tamanho de uma máquina pública pesada e lenta. Demorou. Parece que agora vai.
É inaceitável que um Estado como Rio Grande do Sul, à beira do abismo financeiro, desperdice energias cuidando de girafas e de tamanduás. Eles merecem coisa melhor. Há servidores qualificados no zoo e estes certamente poderão se reaproveitados no novo modelo. Não faz o menor sentido, porém, que o poder público se meta a fazer o que não sabe. Tomara que apareçam vários candidatos a administrar o zoo e que o vencedor da licitação invista e lucre com a sua eficiência.
Os zoológicos mudaram nas últimas décadas. Alguns acolhem apenas animais feridos ou que, por terem nascido em cativeiro, não sobreviveriam em outro lugar. O nosso também mudou e deveria ser cada vez mais assim para que cumpra, de forma saudável, com o seu papel de aproximar as pessoas da biodiversidade do planeta.
A concessão do zoo de Sapucaia mereceria uma festa das espécies que nele habitam. Mas a maior celebração deveria ser de uma espécie encontrada em outro habitat: Homo sapiens gaúcho, que não terá mais seus impostos destinados a comprar comida para leões e ursos e que ganhará um espaço mais organizado e funcional para aprender sobre seus vizinhos de planeta.