Minha mãe é corretora de seguros. Isso não é propaganda. É um pedido de desculpas. Este texto é um atentado contra os interesses da família.
O Bruce é um grande amigo americano. Aluguei uma casa a 70 metros da casa dele. Convivemos bastante. E tenho aprendido muito com ele.
Estávamos, outro dia, conversando sobre automóveis, uma das maiores paixões americanas – mas não do Bruce. Ele é casado com a Franca, uma gaúcha, tem com ela um filho encantador, o Daniel. É comum vê-los, juntos ou separados, passeando aqui pela pacata North Buck Lane com o Jack, o cão mais simpático da face da Terra.
Até bem pouco, a família tinha apenas um carro – algo incomum para os padrões locais. Um Nissan simples, com mais de cinco anos de uso. E sem seguro contra colisão. Uma decisão racional e ideológica, mas não econômica.
Pensar fora da caixa às vezes é arriscado.
Desculpe, mãezinha. Mas a tese do Bruce me balançou. Se você tem um bom seguro, inconscientemente sabe que, se provocar um acidente apenas com danos materiais, nada de mais grave vai acontecer. Mesmo se você demolir uma Ferrari.Então, você é menos cuidadoso ao volante. Arrisca mais. E tem mais chances de se machucar. Se você não tem seguro, sabe que uma distração ou imprudência vai lhe custar algumas centenas, ou até milhares de dólares.
O Bruce é um motorista mais cuidadoso desde que abriu mão da cobertura.
Eu pego o carro dele emprestado muitas vezes. Dirijo como um monge budista. Dou passagem para todo mundo. Respeito os sinais. Mantenho as distâncias, cuido dos pedestres. Porque, se eu fizer alguma barbeiragem, vai custar caro. Mesmo que seja só uma batidinha. E, se a culpa por algum acidente for do outro, problema dele. O meu eventual seguro valeria tanto quanto uma nota de real no caixa do Acme, o súper aqui da esquina.
O Bruce tem uma tese complementar. Uma implicância quase pessoal com um dos homens mais ricos do mundo, Warren Buffett. Aliás, ex-aluno da universidade à qual o Bruce é vinculado, a Wharton School. Buffet ganha bilhões de dólares vendendo seguros. "Não vou aumentar a fortuna dele comprando algo que pode me matar", disse meu american friend.
Na nossa conversa, ficou claro que essa lógica se aplica a situações nas quais temos controle dos fatos. Nunca a desastres naturais e problemas de saúde, por exemplo.
Mas a ideia está martelando na minha cabeça há mais de um mês. Muitas vezes, a gente compra veneno achando que é remédio. Na verdade, só o que conseguimos é ficar cada vez mais pobres e expostos. Para alegria dos Warren Buffetts espalhados por aí.