O que os índios brasileiros têm a ensinar aos europeus?
Acho que não temos uma influência europeia no Brasil, mas, sim, um certo desejo promovido pela publicidade de sermos algo que não somos. Somos um país cheio de gente que veio refugiada, escravizada ou para tentar a sorte aqui, mas os índios são os povos originários. Estavam aqui cultivando as florestas e vivendo sua vida quando a invasão bárbara começou.
Aprendi com William Balée e com os próprios índios que a floresta amazônica é antropogênica, ou seja, deve aos índios parte de sua diversidade. Os povos que chegaram depois poderiam ter tido a humildade de aprender com eles como fazer para ter tanta riqueza ecológica, viver sem escravizar os animais e ter mais prazer em curtir a vida com festas rituais, música, pinturas corporais e tentar criar boas relações com o mundo e seres sobrenaturais.
Os europeus, como os índios, são muito diversos. Acho que temos todos de aprender a valorizar o respeito pelas diferenças culturais, tanto os europeus como os brasileiros. Ao invés do desejo de aniquilar e matar o outro, precisamos ter prazer em aprender a provar outros sabores, admirar novas formas de se vestir e viver a vida.
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O que os próprios brasileiros deveriam saber sobre os índios brasileiros mas ainda não sabem?
A maioria dos brasileiros tem uma ideia bem estereotipada sobre os índios. Muitas comunidades indígenas desenvolvem projetos para atrair mais gente para conhecer como vivem, organizam saraus de literatura escrita por autores indígenas, festas para escolas, aulas de arqueria ou rituais para ver se conseguem apaziguar as relações violentas e preconceituosas alheias.
Duas crianças indígenas foram assassinadas a sangue frio, uma em Santa Catarina e outra no Acre. No Brasil, precisamos desenvolver uma cultura de paz. E nos indigenizarmos cada vez mais para vivermos fora do pesadelo da ultraindustrialização e da monoculturalidade.