Sou uma presa fácil. Acredito em qualquer trote minimamente bem passado. Quando era criança, fazia a festa dos colegas no Anne Frank: "Tem uma mancha na tua testa".Eu começava a me apalpar, para o delírio da turma: "Primeiro de abril", alguém gritava. Não me importava, ria junto daquela coleção de pegadinhas inocentes.
Tolinhos. Nós achávamos que aquilo era mentir. "Tua mãe tá ali na porta te chamado", "Vi que tu tirou zero na prova", "A fulana me disse que não gosta de ti". Ahhh, a dor no coração. Até que alguém anunciava: "Primeiro de abril". Gargalhávamos dessa confusão proposital da fronteira entre a verdade e a mentira. Era um jeito de delimitá-la. A má notícia: essa fronteira acabou. Desabou tal qual um Muro de Berlim ao contrário.
É só entrar no Facebook, no Twitter ou fazer uma busca no Google. Nas redes sociais, verdade e mentira têm a mesma cara, o mesmo jeito. Pior: ninguém avisa que é uma pegadinha. Até porque, muitas vezes, não é. A pós-verdade, ou verdade de post, é um mecanismo intencional de manipulação. Criar perfis falsos para defender causas e atacar concorrentes virou algo tão corriqueiro, que se confunde com estratégia de marketing. Não é. É mentira a serviço da mentira.
Espalhar boatos, caluniar concorrentes anonimamente, usar inverdades para ganhar eleições. E depois culpar os que foram enganados, como se tivessem responsabilidade por não identificar mentiras construídas profissionalmente. É como acusar a vítima por ter sido assaltada. "Também, não estava prestando atenção." Balela.
Hoje, 1º de abril, um brinde ao Facebook e ao Google, que não se acham responsáveis pelos crimes cometidos em seus territórios virtuais. Que não pedem desculpas, que não investem na checagem das notícias, que se abstêm de qualquer responsabilidade pelos danos causados a pessoas, comunidades e empresas. Hoje, as pegadinhas no colégio seriam diferentes. "O político roubou R$ 10 mil." Nessa, acho que nem eu acreditaria. "São 10 bilhões! Primeiro de abril."
Minha gratidão aos trotes da infância. Também por causa deles, me apaixonei pelo ato de checar, de apurar antes de publicar. Já fui enganado, já errei. Vou errar outras vezes. Mas será sem querer e vou me importar. Muito. Por isso acredito no jornalismo independente e profissional. Renovado, repaginado e plural. É o farol que nos guia nos 365 primeiros de abril de cada ano.
CONTINUE LENDO O INFORME ESPECIAL DESTE FIM DE SEMANA (1/4 e 2/4)
A PRIMEIRA VEZ
Claudiomiro da Silva trabalha há 22 anos na Praça da Matriz. Ontem, foi convidado pela primeira vez a entrar no Piratini. Com os sapatos bem lustrados, o governador participou, logo depois, do Encontro Bilateral Brasil Sul e Argentina. Claudiomiro saiu feliz. "Ele me tratou de igual para igual", declarou. Melhor ainda: o engraxate recebeu seu pagamento integral, à vista, sem parcelamento. No capricho.
PARCERIA
Nelson Marchezan Júnior e Amyr Klink se encontraram nesta sexta (31/3) no estúdio do Jornal do Almoço. Falaram sobre o imenso potencial de Porto Alegre na área das marinas de água doce. Trocaram telefones e e-mails.
LAMA
Primeira pessoa a atravessar o Atlântico Sul a remo, Amyr Klink relembrou ontem uma aventura quase tão difícil.Há 40 anos, percorreu todo o litoral gaúcho em um Fiat 147 – de Torres ao Chuí. A Estrada da Morte não lhe saiu nunca mais da memória.Tudo porque resolveu esperar pela compensação de um cheque, recebido pela venda de um motor home a um gaúcho. Como tinha de esperar mesmo, foi exercitar a veia que, mais tarde, lhe daria fama mundial.
DEDO NA FERIDA
A prefeitura vai publicar um decreto nos próximos dias determinando o acesso público irrestrito às contas bancárias por onde circula o dinheiro das passagens de ônibus. Reconhecimento facial e GPS também fazem parte do documento.
RECEITA
Da Escola de Medicina de Harvard para a chefia da Oncologia do Hospital São Lucas da PUCRS. André Fay é um reforço de peso para a medicina gaúcha e brasileira.
INK
Serão 400 tatuadores e 9 mil pessoas no edifício-garagem do Beira-Rio. O Tattoo Show RS contará com mais uma edição do já famoso concurso de talentos. As categorias: série colorido, série preto e branco, black and grey, black work, fechamento, neo tradicional, new school, realismo, comics, tribal, aquarela, fusion, caligrafia, colorido, portrait, old school, oriental e pontilhismo.Ah, tem também a passagem da faixa da Miss Tattoo.Sem dúvida, ficará marcado.
FICA A DICA
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TRIBUNA – AQUI, O LEITOR TEM A PALAVRA FINAL
Sobre a posição a respeito da defesa do desarmamento:
Não entendo essa tua hipocrisia em relação ao DIREITO DO CIDADÃO DE BEM ter posse e porte de armas.(...)Tomara que nunca aconteça, mas, no caso de tua casa ser invadida por bandidos, ofereça café ou um bom scotch ao invés de chumbo.Deixa de ser hipócrita.
Everton Bertolini
Discordo do amigo... Muito simplista a sua colocação... Talvez possas apontar uma solução. Estamos na selva, amigo.
Cesar Portal (Twitter)
Mesmo sem entender o motivo da indignação, publico-a, democraticamente:
Vai carpir um lote
João Pizzio (Twitter)
Sobre a grosseria de uma suposta teleatendente de uma operadora de celular:
Pode acreditar que o número é da Vivo. Recebo no meu telefone fixo cerca de 30 a 40 ligações por dia originadas de telefones prefixos 11 e 16 e, quando atendo, não falam nada, desligam. É que as ligações foram programadas e feitas pelo computador, exatamente como esta pessoa lhe disse. Menos mal que conseguiu bloquear o número, pois parece que no celular seja possível, nos telefones fixos não dá para bloquear. Sabe o que me restou? Não estou atendendo ligações de telefones que não sejam do prefixo 51. Nenhuma.
Ricardo Stelczyk