Todos os leitores, até mesmo os amantes dos clássicos, têm lá seus vícios inconfessáveis. Talvez sejam ensaios de autoajuda, talvez romances açucarados de banca de revista. Entre os meus hábitos de leitura obscuros, estão histórias de pessoas que enriqueceram cedo com métodos extremos de economia. Você já deve ter visto alguma reportagem sobre isso. Gente que investe 50%, 80% de sua renda mensal líquida durante não sei quantos anos para juntar um patrimônio cedo e poder relaxar pelo resto da vida.
Enquanto admiro esses aventureiros, fico um tantinho desconfiado: nunca conheci pessoalmente alguém que tenha feito isso. Também, pudera. Quem consegue guardar tanto de sua renda, ainda mais neste momento de crise? A maioria dos brasileiros está preocupada mesmo é com o pagamento das dívidas. Existe uma renda mínima (não confundir com salário mínimo) necessária para se manter uma vida digna, que varia de pessoa para pessoa. Abaixo disso, não sobra nada, tudo é gasto para o sustento. Acima disso, é possível guardar um pouco. Mas aqui está a parte que mais me intriga: muitas pessoas que têm condições de economizar simplesmente optam por não fazê-lo. Por falta de planejamento, por algum problema emocional, vai entender. Soube de casos de juízes endividados, e não se pode dizer que o salário dos juízes seja baixo. Como pode?
Leia também
População desempregada atinge recorde de 12,9 milhões de pessoas
Dólar fecha com valorização de 1,85% após discurso de Trump
Brasileiro Everton Luiz é alvo de racismo e deixa campo chorando
Tenho calafrios sempre que leio sobre o endividamento das famílias. E as notícias aparecem toda hora. Escolha uma estatística: por exemplo, a da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em uma amostra de 18 mil consumidores, 55,6% estavam endividados em janeiro. É o menor índice desde junho de 2010, mas ainda assim é alto. Continua sendo mais da metade dos participantes. O cartão – modalidade caríssima de crédito – foi apontado como a principal dívida pela grande maioria (77,3% do total), sejam ricos ou pobres.
Tudo isso só faz aumentar a minha fascinação pelos divulgadores da economia radical. Pense nos impropérios que eles devem ouvir por aí. Afinal, no Brasil, quem não gasta todo o dinheiro do mês é pão-duro, sovina, mau caráter. Gente boa financia o carro do ano em prestações que não cabem no bolso. Compra uma TV maior. Pede um novo cartão de crédito quando estoura o limite do outro.
Para ser bem realista, acredito no meio-termo. Ponderação, sensatez, escolha a palavra que quiser. Se não desejar fazer nenhum sacrifício, quem sabe economize o que puder para qualquer emergência, nem digo ficar rico. Apenas sair da lista de endividados. Não quero ver você na próxima estatística, hein!
CONTINUE LENDO O INFORME ESPECIAL DESTE FIM DE SEMANA (25/2 e 26/2)
FUTURO
Conversas em grupo, conteúdos multimídia e outros recursos. O Google está apostando na tecnologia RCS para melhorar, no sistema Android, a troca de mensagens até agora conhecida como SMS. O aplicativo ficará parecido com WhatsApp e iMessage.
ARTE POP
O site canadense Today is Art Day criou uma campanha de financiamento coletivo para confeccionar bonecos de Van Gogh. Com cerca de 12 centímetros de altura, a versão em PVC do pintor pós-impressionista conta com duas orelhas removíveis – caso o cliente queira ser fiel à história, é recomendável retirar somente a esquerda. A ideia é que seja o primeiro de uma série de artistas homenageados. Clique aqui para saber mais.
DUAS PERGUNTAS – Ana Maria Gonçalves
1. Quais são as particularidades do racismo presente no Brasil?
O racismo brasileiro é baseado no preconceito de cor ou, como chamou o sociólogo Oracy Nogueira, preconceito de marca. Ele se baseia na aparência do indivíduo, diferente dos EUA, onde basta a suposição de que ele descende de determinado grupo étnico, chamado de preconceito de origem. Existem vários tipos de racismo, sendo os principais: racismo pessoal (aparece em crenças, pensamentos e atitudes de indivíduos racistas), racismo social ou sociocultural (manifestado por grupo de pessoas e expresso através de religião, cultura popular, propagandas, mídia etc.) e racismo institucional ou estrutural (dá-se através da inferiorização, antipatia e/ou descaso manifestos por instituições, como escolas, polícia, sistema educacional, sistema judiciário etc).
2. O que podemos fazer para que o país seja menos racista?
Primeiro, entender o que é racismo e reconhecer sua existência e os males que ele causa, não apenas aos indivíduos que são alvo de racismo, mas à sociedade como um todo. Nenhuma sociedade será plena e digna se metade dos seus indivíduos é impedida do pleno exercício da cidadania. Reconhecendo que ele existe, combatê-lo por meio de vigilância individual – policiar-se em relação a pensamentos e ações racistas – e políticas públicas visando desconstruir um sistema que é estrutural e estruturante e que vai continuar sendo assim se não sofrer interferência.
TRIBUNA – AQUI, O LEITOR TEM A PALAVRA FINAL
Sobre a crônica "Reviravoltas mirabolantes" (18 e 19/2), a respeito da dinâmica entre direita e esquerda:
Fábio,
[...]
Harmonizam-se nossas ideias – a tua e a minha – quando aludes à inexistência de neutralidade na análise dos fenômenos políticos, "pois a visão de mundo é informada por nossos valores". De outra parte, observo que se trata de discurso de direita a morte das ideologias. Não sei com que finalidade. Por último, ainda que crítico implacável do atual e ilegítimo governo – e sou! –, não posso concordar com o tratamento dispensado por ti à greve dos policiais no ES. De fato, trata-se de movimento que, além de se ocultar atrás de mulheres – mães e esposas de policiais –, produziu 121 mortes e deixou refém a população de Vitória e de outras localidades. Não só deveria ser reprimida como indiciados criminalmente os responsáveis pela absurda e brutal chacina.
Paulo de Assis Bergman
Sobre a nota "Lembrete" (21/2), a respeito de bancos brasileiros que permitem saque sem cartão:
No Informe Especial de hoje (21/2), sob o título "Lembrete", Fábio Prikladnicki citou o Banco do Brasil como exemplo de banco que permite saques com um código gerado por um aplicativo no celular. Muito bem. Apenas gostaria de lembrar que o Banrisul, cuja privatização é tão aplaudida por ZH, também possui semelhante aplicativo, o que facilita muito a vida de seus correntistas.
João A. Pessil
Sobre a nota "Mobilização" (23/2), a respeito do Fórum em Defesa da Previdência:
Ao ler a notícia "Mobilização" no Informe de hoje em ZH, me lembrei da frase no livro Il Gattopardo, de Giuseppe di Lampedusa: "Os funcionários públicos, os homens do governo, são hábeis em confundir, em misturar, seus precisos interesses particulares com o difuso interesse público". Sindicatos de servidores públicos, reunidos num anfiteatro do TRT, mobilizados contra a reforma da Previdência. O que pode ser mais emblemático?
Antonio Rissato
Sobre a aprovação de Alexandre de Moraes para o STF, abordada em diferentes notas:
Como a ministra Cármen Lúcia não gosta de festa, gosta de processo, ela pode sugerir que a festa de posse do novo ministro não seja feita no Supremo – mas no Senado.
Luiz Andreola