Circula nas redes sociais uma manifestação do Clube Militar, tratada como uma resposta a declarações do comandante do Exército. De acordo com o Clube Militar, não é. A carta é verídica, mas foi divulgada em 12 de dezembro, antes das manifestações do general Villas-Boas sobre a crise brasileira. De qualquer forma, vale a pena lê-la. O documento espelha a posição de uma parte das Forças Armadas e da sociedade brasileira.
Confira, na íntegra, a carta:
O PENSAMENTO DO CLUBE MILITAR:"SEM SAÍDA"
Gen Gilberto Pimentel
Presidente do Clube Militar
12 de dezembro de 2016
Quem não viveu mais de meio século neste País não viu, nem de longe, crises que possam ser comparadas com as que hoje castigam nossa gente.
Elas começaram a tomar forma a partir da ascensão do petismo ao poder e parecem não ter fim. São políticas, sociais e econômicas e atingem todas as instâncias dos poderes constituídos.
São também, e sobretudo, crises morais e de valores. Uma herança trágica que, certamente, vai perdurar por muitos anos até que tenhamos condições de voltar a ser uma Nação séria e considerada pela comunidade internacional. Uma tragédia sem precedentes.
Há nessas crises um ingrediente a mais, explosivo, capaz de romper o já frágil equilíbrio entre os Poderes e de criar um cenário social que termine por propiciar o florescimento da anarquia.
Refiro-me aos episódios, quase em série, de claro desrespeito à Carta Magna. Leis e princípios constitucionais têm sido ignorados, interpretados ao sabor de interesses imediatos, pessoais, quase sempre escusos, exatamente pelas autoridades investidas de poderes para aplicá-los em nome de uma Justiça equânime, igual para todos. Até argumento de preservação da governabilidade tem sido invocado como razão para ignorar as leis. Isso não é nada razoável. É, sim, uma grave distorção.
Para não nos estendermos, já que os exemplos são muitos e bastante conhecidos, quero me referir, tão somente, a dois inacreditáveis que se seguem.
Primeiro ao do julgamento do processo de impeachment da presidente da República, quando, incentivado pelo ministro do STF que o conduzia e pelo presidente do Senado, o plenário da Casa, simplesmente, fechou os olhos para o que determinava a CF e deixou de punir a transgressora na forma da lei. Ou seja, cassou seu mandato pelas irregularidades e crimes de que era acusada, mas deu-lhe um passaporte para exercer seus direitos políticos a partir do dia seguinte ou de quando lhe aprouvesse.
Mais recente, outra vez o presidente do Senado, num ato de enfrentamento à Justiça, recusou-se a receber ou reconhecer uma medida liminar expedida por um outro ministro do STF e, pior ainda, o plenário do Supremo, posteriormente, lavou as mãos diante do grave crime cometido. Caso único de abuso de autoridade e gravíssimo de desrespeito às leis.
A delação premiada de um funcionário da Odebrecht, que veio a público no final de semana, envolvendo quase uma centena de dirigentes, políticos e autoridades de todas as instâncias do poder, somados aos já investigados, reforça a nossa convicção de que a situação é crítica. É preciso encontrar uma saída. A realidade é que os interesses do Brasil, para essa gente, são irrelevantes. No que pensam mesmo é em livrar seu pescoço.
O que mais ansiamos hoje é que esses irresponsáveis, do alto de sua ambição desmedida, num rasgo de consciência, lembrem-se que a um povo não pode ser negada a chance de uma saída para suas dificuldades. Acuá-lo pode ser muito perigoso. Ao menos permitam que resolva seus problemas por si só. Deixem espaço para que haja escoamento. Do contrário o caminho será aberto à força.
Com todas as consequências.