Faz uns quatro anos. Finalmente, estávamos livres dos insetos que invadiram uma região incerta do telhado. Se ficassem por lá, não seria problema. Havia uma laje no meio do caminho. Mas começaram a cair pelas frestas das ripas de madeira. Apesar dos isolamentos térmicos e acústicos, se espalharam pelo piso do sótão.
Era limpar e, um dia depois, tudo se repetia. Uma espécie de formiga grande, com asas. Mas não era cupim.
Especialistas recrutados via Google foram contratados. Não adiantou. Dedetização. Fracasso. Dicas dos vizinhos, da benzedeira. Insucesso. Abracadabra. Misteriosamente, um dia, os bichos sumiram.
A alegria durou pouco. Não demorou muito, um outro tipo de sujeira começou a pontilhar o chão do andar de cima. Minha mulher, sempre atenta à saúde da família, chamou um profissional altamente especializado. Ele recolheu amostras e encaminhou ao laboratório. Diagnóstico: morcegos. Provavelmente atraídos pelos insetos, que foram todos devorados. E, por isso, sumiram. Fim do mistério.
Diante do novo invasor, apelamos ao Neymar do combate aos morcegos. Ele desmontou parte do telhado e prometeu remover os animais sem machucá-los.
Não removeu. Ou removeu e eles voltaram. Vedamos, reformamos, rezamos. Até que, alguns meses atrás, minha mulher anunciou, convicta: "Encontrei a solução". Que era deixar uma luz acesa no forro durante a noite. Morcegos não gostam de claridade.
Veio o instalador e fez o serviço. Eu não levava fé. Ainda mais depois da primeira conta da CEEE. Mas, acreditem, funcionou. Estamos no meio da primavera e nenhum morcego deu sinal de vida até agora.
Foi um mês de paz e chão limpo.
Até a semana passada, quando, junto com o calor, o piso do sótão amanheceu pontilhado outra vez. Me abaixei para ver. Os insetos voltaram. Porque não há mais morcegos para comê-los.
Fiquei olhando e pensando na dança de Shiva, naquilo que a gente chama de coincidência mas que é parte da mesma coisa. Haja paciência.
Não matei morcegos nem insetos. Mas matei a charada. É um ou outro. Status: não posso mais apagar a luz, senão os morcegos voltam. Mas se a luz continuar acesa, talvez não me livre dos insetos.
Só me resta convocar uma assembleia familiar para decidir qual das pragas é a menos pior. Vai ser barbada. Difícil é votar em eleição americana.
CONFRONTO NECESSÁRIO
A gente engole qualquer coisa. O falso mantra que se propõe a explicar o fenômeno da violência em Porto Alegre, por exemplo. Basta repetir, com ar sério e professoral, que a culpa é das drogas.
Não é.
Se fosse, Nova York estaria banhada em sangue. Lá, o tráfico é infinitamente maior e mais poderoso do que aqui. O problema do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre é a ausência do Estado.
Nossos impostos sustentam um zoológico e uma gráfica, mas não chegam aonde deveriam estar: nos presídios, nos morros e nas periferias em que os traficantes prosperaram no vácuo criado pela omissão e pela má política.
Estado não é só repressão. É, antes de tudo, oportunidade e Justiça. Quando alguém chama a polícia, é porque muita coisa deu errado antes. Botar a culpa nas drogas é o jeito mais fácil de deixar tudo como está.
O que nos falta é um governo com coragem para propor, de verdade, o óbvio: um Estado mais eficiente. Se, para isso, tiver de ficar menor, que assim seja. Infelizmente, isso não se consegue com sorrisos e com consensos.
CRUSTÁCEO GAUDÉRIO
Dendrocephalus riograndensis é o nome de uma nova espécie de camarão descoberta em Santa Vitória do Palmar. O artigo oficializando o batizado foi publicado há pouco mais de um mês. Resultado de uma expedição apoiada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e realizado pelo Instituto Pró-Pampa. O nome popular do pequeno habitante de pequenas poças de água doce: camarão-fada.
NOVOS TEMPOS
Um selo verde para 10 mil paróquias brasileiras. Alicerçado no 22º Plano Pastoral do Secretariado-Geral da CNBB, o programa pretende certificar o cumprimento de normas socioambientais. Algumas delas: coleta seletiva, descarte, uso racional de energia e uso racional de água. Tudo isso até 2019. Com fé, vai.
DE MUDANÇA
Jairo Jorge não considera suficientes as decisões tomadas pelo diretório nacional para a renovação efetiva do PT. Embora não fale publicamente sobre o tema, há grande chance de sair do PT nos próximos dias.Mesmo derrotado na eleição em Canoas, Jairo Jorge, no PDT, será um nome forte em 2018.
PÓDIO
Clube formador de campeões e medalhistas, a Sogipa já pensa em Tóquio. Durante a última semana, organizou um evento para lançar um novo projeto. A meta: arrecadar R$ 10 milhões para investir na preparação para a próxima Olimpíada.