Um exagero imoral.É um erro minimizar o peso dos cargos de confiança no debate sobre a gestão de Porto Alegre. O argumento central da manobra: eles custam pouco em relação ao total do orçamento. Meia verdade. Os CCs consomem R$ 150 milhões por ano, mais da metade dos investimentos feitos pela administração da Capital. Logo, não é tão pouco assim.
O que mais preocupa, porém, é um outro aspecto, propositadamente esquecido. Existem hoje mais de mil CCs na prefeitura. Esse é o número que verdadeiramente importa. A exorbitância é o sintoma aparente de uma doença grave. O apadrinhamento político gera uma distorção indefensável no trato da coisa pública. Compromete a impessoalidade e abre portas para a instabilidade e para a incompetência. Em geral, alguém indicado para um cargo de confiança precisa se preocupar, em primeiro lugar, com quem o indicou e não com a qualidade do trabalho e com o conjunto da sociedade.
Não quero aqui generalizar nem promover uma caça às bruxas. Existem ótimos e necessários profissionais trabalhando como CCs. No meu começo de carreira, ainda antes de me formar, fui CC na Câmara Municipal. Uma experiência importante e da qual muito me orgulho.
Mas é inegável que mil cargos de confiança em uma cidade do tamanho de Porto Alegre é um absurdo. Mais um descalabro com o qual nos acostumamos e passamos a achar normal. A questão transcende o custo anual dos vencimentos. Tem a ver com gestão e com eficiência. O concurso público exigente, sério e transparente continua sendo a única forma aceitável de dar à administração um caráter de independência e de foco nos interesses coletivos mais perenes.
Distribuir cargos a fiéis apadrinhados, muitas vezes desprovidos de qualquer competência para a função, deveria ser mais uma das práticas abolidas da vida pública brasileira. Pior ainda é a mesma lógica em versão reversa: criam-se os cargos para acomodar os cupinchas.
Ainda estamos longe da erradicação dessa praga. Mas chegaremos lá. Até porque, mais cedo ou mais tarde, não teremos escolha.
Fluxo de caixa
Questionados ontem nas entrevistas individuais concedidas ao Jornal do Almoço, tanto Sebastião Melo quanto Nelson Marchezan deram respostas parecidas à mesma pergunta: não sobrou dinheiro do primeiro turno e manter a campanha no segundo será um grande desafio.Nesses casos, a perspectiva de vitória sempre ajuda.
Sqn
A renovação na Câmara Municipal de Porto Alegre não é tão renovação assim. Boa parte dos novos eleitos tem extensa vida pública e já ocupou o cargo de vereador antes, seja como suplente, seja em legislaturas anteriores.
Amplo direito de defesa
O Tribunal de Justiça Militar julga amanhã um novo recurso do ex-comandante do 4º Comando Regional dos Bombeiros, do tenente-coronel da reserva Moisés Fuchs, do capitão Alex da Rocha Camillo e do tenente-coronel da reserva Daniel da Silva Adriano.Eles foram condenados por fatos relativos à tragédia da boate Kiss.
Obrigatório?
Quem não votou só precisa justificar. Qualquer justificativa. E, se não justificar, paga uma multa inferior a R$ 4.É trocar um domingo por uma passadinha no cartório eleitoral.
Discrição
O TRE já esteve bem mais presente nas coberturas de eleição. Bom sinal. Quando o juiz aparece pouco, sinal de que trabalhou de forma correta e eficiente.