Dois planetas se cruzarão na praia nesse fim de semana. Não haverá choque. Enquanto um, o Atlântida, estiver indo dormir, o outro, o da Travessia Torres-Tramandaí, estará acordando. A rotação começará quando o sol nascer, na manhã de sábado.
A 12ª edição da TTT reunirá 3 mil atletas em 81 quilômetros na beira da praia. Cerca de 150 enfrentarão o percurso sozinhos. Os demais, em revezamentos de duplas, quartetos e octetos. A largada será só uma formalidade. A prova começou, de fato, no meio do ano, quando as inscrições se esgotaram pouco depois de serem abertas. Os treinos, o tipo de tênis, a alimentação, as caronas de chegada e volta. Tudo vem sendo organizado desde então.
Amanhã, o movimento do Litoral vai começar cedo. A primeira largada, às 6h, reunirá os atletas da categoria solo. Depois, às 7h30min, será a vez das equipes. Durante boa parte do dia, carros cruzarão a Estrada do Mar e a Paraguaçu . Entrarão nas praias entre Tramandaí e Torres para recolher e desembarcar atletas nos oito pontos de largada, troca e chegada.
Por ser disputada no verão e na praia, perto da Capital, a TTT atrai muita gente. Centenas de grupos de corrida do Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Brasília, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Santa Catarina garantiram suas vagas.
A faixa de areia larga e reta torna o Litoral gaúcho um dos melhores do mundo para correr. Quanto mais compactado estiver o piso, melhor. Uma chuva de véspera sempre ajuda. A dica dos mais experientes é correr perto das guaritas dos salva-vidas, para evitar o declive junto ao mar. O desnível do terreno pode causar lesões.
Enquanto a multidão estiver correndo, uma complexa estrutura de apoio estará pronta para funcionar. Médicos, enfermeiros, ambulâncias, motos, fiscais, postos de hidratação, distribuição de frutas e de medalhas para todos os participantes. Ao todo, serão duzentas pessoas trabalhando. Tudo precisa estar no lugar certo e na hora certa. Até a natureza precisa ajudar.
Em 2015, o vento sul bateu de frente nos corredores, tornando o percurso ainda mais difícil. A torcida, esse ano, é pelo vento Nordeste, que empurra pelas costas e não impõe resistência. Chuva nem sempre atrapalha, mas sol demais aumenta o desgaste, especialmente de quem corre entre 10 da manhã e 4 da tarde.
Nos últimos anos, a corrida de rua é um dos esportes que mais cresceu no Brasil. Pesquisas recentes mostram que, no país da bola, esse esporte já tem mais praticantes do que o futebol. Um mercado gigantesco no qual grandes marcas buscam espaço.
Para mais de 90% dos atletas que disputarão a TTT, tanto faz chegar em primeiro ou no batalhão final. Em último, não. Isso ninguém quer, embora completar a prova já seja uma vitória.
Estar ao livre, suar, ver o mar, sentir o vento – desde que não seja muito forte – e encontrar os amigos. Esse são os maiores prêmios, sintetizados em uma substância química produzida naturalmente pelo organismo: a endorfina, conhecida como o hormônio do bem-estar. Correr estimula a sua produção.
Se você estiver na beira da praia e enxergar essa turma suada e aparentemente cansada passando por você, incentive, grite. Todo mundo, de um jeito ou de outro, está convidado a participar da festa.
TTTfacts
3 mil corredores
81 quilômetros pela beira da praia
6h – Largada individual
7h30min – Largada duplas, quartetos e octetos
200 pessoas trabalhando
9 médicos de plantão
6 ambulâncias
4 motos de socorro
45 mil copos de água
5 mil bananas
4 mil bergamotas
4 mil maçãs
9 mil bebidas isotônicas
A estreia de uma estrela
Aos 65 anos, ela é uma celebridade das ultramaratonas. Já completou setenta e uma. A mais extensa, de 235 quilômetros. Tomiko Eguchi vai disputar a sua primeira TTT. "Faz tempo que eu queria, mas nunca dava por causa da agenda", explicou. De São Paulo, trará sua mochila de hidratação e sachês de carbo-hidrato, usados para repor energia de forma rápida. Comprará em Torres bananas e biscoitos de sal.
Tomiko nasceu em Nagasaki, no Japão, e veio aos 10 anos para o Brasil. Está acostumada aos trajetos longos. "Na praia muda tudo", explica. Para correr na areia, usará tênis mais leves. Eles retêm menos a água dos córregos que terá de cruzar no caminho.
Falando devagar e com sotaque marcado, Tomiko revela a sua estratégia. Começar num ritmo confortável e, se sobrar gás, acelerar um pouco depois dos 40 ou 50km. Ela não virá com equipe de apoio. A perseverança, a paciência e o planejamento serão os seus companheiros nos 81 quilômetros que terá pela frente a partir das 6h de amanhã.
Correria na beira da praia
Quando você estiver brincando na beira da praia amanhã, um monte de corredores vai passar à sua volta. Não se assuste. Essa gente estará participando de uma prova bastante difícil de completar: são 81 quilômetros. É quase o dobro da distância de uma maratona!
Só 150 dos 3 mil participantes vão percorrer essa distância toda – os demais correrão em duplas ou equipe de quatro e oito atletas.
Esses 150 aventureiros levarão pelo menos seis horas para chegar até o final, em Imbé (o recorde da prova é de 6h13min).
É muito tempo, né? Dá para fazer um monte de coisa. Por exemplo: ver quase três filmes da série Harry Potter. Se você gosta de viajar, dá para ir de carro de Porto Alegre a Floripa ou até Fortaleza de avião, com uma paradinha em Brasília.