Estava virando bagunça. Porque alguns confundem "utilizar" com "privatizar" praças e parques. Faço parte de um grupo de corrida. Por isso, posso falar. Aos domingos, nos longões, a gente se reúne nas barras do Parcão. O professor Mauro Paranhos chega com uma mochila, recolhe chaves e carteiras, as guarda e saímos Goethe afora.
Na volta, ele busca no carro uma bombona térmica para a hidratação. E é isso. Nada de gazebos enfeitados com marcas, bandeiras ou tentativas de reservar um pedaço espaço público só para nós. Essa ação da prefeitura de Porto Alegre para disciplinar o uso dos parques e praças pelos grupos de corrida é boa, desde que todos sejam ouvidos e se chegue a um entendimento que preserve o coletivo.
Faz alguns anos, eu participava de uma corrida que terminava com a subida da Dom Pedro e da Carlos Gomes. Lá pelo viaduto da Nilo, comecei a ouvir gritos: "Sai! Sai! Sai da frente". Achei que era alguém carregando um ferido. Mas não. Tratava-se de um personal abrindo espaço para o seu aluno. Aos berros, sem noção e sem educação.
Saber compartilhar é um dos maiores desafios da vida na cidade. Entender que eu, nós e eles somos uma coisa só. E que, se não houver algumas regras e combinações, ganhará quem grita mais alto.
Os grupos de corrida deram nova vida à cidade. São um fenômeno divertido e saudável. E como, ainda bem, se tornam cada vez mais numerosos, chegou a hora de treinar o mais saudável dos exercíos: espaços públicos são de todos. E isso é muito diferente de ser de ninguém.