A enchente que arrasou o Rio Grande do Sul emudeceu os defensores do Estado mínimo. Políticos para os quais o único papel do Estado é “não atrapalhar” estão mergulhados nas próprias contradições, defendendo investimentos e benefícios que não cabem nas teorias nem se encaixam nos discursos do passado. Na hora do caos, é ao Estado (também conhecido como a “Viúva”) que pobres e ricos recorrem com suas demandas pequenas, médias e grandes. Com isso, fortalecem o discurso dos moderados que não querem Estado mínimo nem máximo, mas do tamanho necessário.
A ideia de que “civil salva civil”, difundida nas redes sociais, é uma meia verdade. Sim, o trabalho dos voluntários foi notável no salvamento de pessoas e animais ilhados, na organização e manutenção dos abrigos, no leva e traz de doações. Mas é injusto louvar apenas os voluntários que se mobilizaram para ajudar o Rio Grande do Sul e desconhecer o trabalho de bombeiros, policiais civis e militares, dos pilotos de helicóptero, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e dos servidores públicos em geral que se envolveram nessa tarefa de salvar vidas no momento da emergência. Eles são o “Estado”. Eles arriscaram a vida nos helicópteros que pairavam quase dentro dos rios nas operações de resgate.
No momento em que começamos a sair da emergência para a reconstrução, o Estado será ainda mais necessário. Por mais bonita que seja a história de comunidades unidas para reconstruir uma ponte (casos raros), é a instituição Estado, pelo Daer e pelo Dnit, que está recuperando as estradas destruídas. No caso das concedidas à iniciativa privada, serviços adicionais não previstos no contrato e decorrentes e catástrofes climáticas entrarão na discussão do reequilíbrio econômico-financeiro e a conta será paga pelo usuário ou pela "Viúva". Isso vale também para o Aeroporto Salgado Filho.
É o Estado, aqui entendido como prefeituras, governo estadual e federal, que vai reconstruir as escolas arrasadas, financiar casas, pagar aluguel social, manter abrigos, desassorear os rios.
De onde vem o dinheiro para bancar as despesas ordinárias, como saúde, educação e segurança, e as extraordinárias que surgem de uma catástrofe climática? Dos impostos que pagamos (a maioria de nariz torcido). Quem faz fila nos postos de gasolina que aderem a uma ilusão chamada de “dia sem imposto” agora clama por socorro do Estado para atender sua demanda particular.