Por que o presidente Lula ainda mantém no governo um ministro com a falta de credenciais de Juscelino Filho? Há de existir uma resposta para além do óbvio, que é a fragilidade ética do governo na escolha de alguns titulares de ministérios. Juscelino é o tipo de caso que, se o governo fosse outro, o PT na oposição já teria conseguido derrubar.
Lula disse que Juscelino só fica se conseguir provar sua inocência. Ora, o governo não é um tribunal. Ministros são demitidos porque pisam fora da linha do aceitável, mesmo que o delito não se enquadre no Código Penal. Juscelino, que por critérios técnicos jamais seria ministro das Comunicações, entrou atravessado no governo e, nestes pouco mais de dois meses, afunda um pouco a cada dia.
Nem mesmo para ser a ponte com o União Brasil, justificativa política para a nomeação, Juscelino serve. Isso seria o de menos, dado que há outros ministros em situação semelhante. São tantos que a maioria ainda não disse a que veio. Dos 37, menos da metade têm protagonismo neste início de governo.
A última de Juscelino foi usar jato da FAB e diárias para ir a um leilão de cavalos em São Paulo. A penúltima, ter omitido a propriedade de animais de raça em sua declaração de bens. O que significaria, para Lula, comprovar a inocência nesses dois casos? Mas não é só isso. Lembremos que Juscelino é aquele que usou emendas do orçamento secreto para asfaltar a estrada que leva à sua fazenda em Vitorino Freire (MA).
Lula contou, na entrevista à BandNews, que não conseguiu conversar com o ministro e por isso o convocou para segunda-feira. Como assim? O presidente não consegue conversar com um ministro que é fonte de dores de cabeça? Há algo de muito errado nessa construção.
Deputados do PT e outros ministros querem a cabeça de Juscelino. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também. Mas aí entra em cena o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também petista, e diz que não é prudente demitir Juscelino.
Lula disse que garante a todos a presunção de inocência, mas se Juscelino não conseguir provar que é inocente ele terá de sair do governo. Já deveria ter saído, a pedido ou por decisão do presidente, mas em vez disso o ministro acha que resolve o problema devolvendo as diárias usadas para ir ao leilão de cavalos.
De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, Juscelino foi a dois leilões, a uma festa em homenagem aos cavalos e inaugurou uma praça dedicada ao Roxão, um animal de seu sócio, na cidade de Boituva (SP). Todos os compromissos envolvendo cavalos foram omitidos da agenda oficial, embora a presença tenha sido bancada com dinheiro público.
Na inauguração da praça, Juscelino se apresentou como "integrante da equipe do presidente da República":
— Na função de ministro de Estado, agora no Poder Executivo, tenham certeza, cada um de vocês, apaixonados pelo cavalo quarto de milha, do meu compromisso, enquanto estiver com uma função pública, de poder defender cada vez mais o cavalo — discursou, ao receber uma homenagem durante sua passagem por São Paulo.
Aliás
Disposto a indicar o advogado Cristiano Zanin para uma vaga no Supremo Tribunal Federal, o presidente Lula diz ter certeza de que, se o fizer, todo mundo compreenderá que seu defensor merece. Não é bem assim: do ponto de vista ético, a indicação é questionável.