Em 20 de novembro, contei neste espaço que me submeteria a um tratamento para combater um linfoma e que por isso meu trabalho seria um tanto irregular. Volto aqui para uma espécie de prestação de contas, porque muitos leitores me cobram por não escrever sobre isso ou aquilo em dias que estou afastada. Para não ter de explicar a cada um que estou no hospital ou em casa fazendo o repouso exigido pela quimioterapia, divido aqui um pouco do que têm sido esses quatro meses.
O verão veio e se foi sem que eu molhasse os pés na praia ou tomasse banho de piscina. É preciso muito cuidado com o sol e, desta vez, saudei a chegada do outono com suas temperaturas (em tese) amenas. Um dos poucos passeios que fiz nas férias de fevereiro foi ao Vale dos Vinhedos. Sinto falta da convivência com os colegas, dos abraços e da troca presencial de ideias, mas a pandemia me ensinou a resistir, a trabalhar de qualquer lugar, a conversar pelo WhatsApp, a navegar pelo mundo virtual.
Sinto falta do espumante de sábado à noite e do vinho no almoço de domingo, mas o que são essas pequenas privações diante da perspectiva de sucesso no tratamento? Aprendi a ser uma paciente paciente. Se meu médico diz que devo passar alguns dias internada, aceito sem questionar. Ele sabe o que é melhor. Estuda diariamente para isso. E minha confiança é absoluta.
Meus amigos dizem que sou guerreira. Nada mais distante de como me vejo. Sou uma pacifista que detesta guerras. Minha certeza de que logo estarei 100% advém da confiança na ciência. Sou muito grata por ter um plano de saúde que me garante o melhor tratamento e sonho com o dia em que qualquer brasileiro, pelo SUS, terá as mesmas possibilidades, com idêntica rapidez.
Nestes quatro meses de vaivém pelo Hospital Mãe de Deus, aumentou minha admiração por enfermeiras/os e técnicas/os de enfermagem, trabalhadores incansáveis, generosos e delicados, que tornam tudo mais leve. Virei torcedora de uma solução para que se pague o piso da enfermagem, já aprovado pelo Congresso. Porque esses profissionais merecem ser valorizados.
Passei da metade do tratamento e o prognóstico é excelente. Ainda terei alguns afastamentos por conta das últimas sessões de quimioterapia, mas sempre que possível estarei na Rádio Gaúcha, em Zero Hora e em GZH, analisando os fatos políticos, que se sucedem na velocidade da luz.
Com tristeza constato que a radicalização só aumenta o que não é bom para um país que precisa de paz e serenidade para crescer, gerar empregos e reduzir a pobreza.