A semana que se encerra foi, de longe, a pior para o presidente Lula em matéria de desgaste de imagem desde o início do terceiro mandato. Seus ataques ao senador Sergio Moro conseguiram ofuscar até a viagem à China, iniciativa importantíssima para os negócios brasileiros. Lula errou feio e deveria pedir desculpas à família Moro, por maior que seja o ódio que nutre por seu algoz.
Um pedido de desculpas seria um ato de grandeza como o que Moro não teve quando impediu Lula de acompanhar o velório do irmão, mas esta não é uma competição de pequenezas. É o momento de o presidente da República reconhecer que errou ao insinuar que o esquema armado pelo PCC para matar ou sequestrar Moro ou alguém de sua família seria uma “armação” do ex-juiz.
Isso depois de a Polícia Federal, uma instituição de Estado que vem agindo com toda a correção no caso, e o ministro da Justiça de seu governo, Flávio Dino, reconhecerem a gravidade do caso e desencadearem uma gigantesca operação para desmantelar o esquema criminoso.
O sol na cabeça que tomou no Rio de Janeiro não é suficiente para explicar o absurdo da declaração de Lula. Foi o ódio a Moro que o fez ignorar as ações de seu governo e dizer que não tinha provas, mas iria "pesquisar", e Moro ficaria desmoralizado. Lula agiu mais uma vez com o fígado — e esse órgão do corpo humano é péssimo conselheiro.
Na véspera da operação que escancarou os planos do PCC, em entrevista ao site Brasil 247, Lula já havia cometido o primeiro erro crasso, ao repetir, na condição de presidente da República, o que dissera outras vezes depois de sair da cadeia: que só estaria bem quando conseguisse “foder” com Moro. Ali reproduziu-se o que seu antecessor, Jair Bolsonaro, fazia no cercadinho do Palácio da Alvorada: o presidente esqueceu a liturgia do cargo e falou movido pela mágoa.
A reação de Moro foi previsível. Além de se indignar com as declarações de Lula, disse que, a partir de agora, qualquer coisa que aconteça com ele e com sua família será responsabilidade do presidente, por ter incitado o ódio. As autoridades terão de redobrar os cuidados com a segurança do senador e de sua família, sabendo que o PCC, mais poderoso grupo criminoso do país, não foi desmantelado. Identificou-se um esquema milionário que envolvia o cerco a Moro no Paraná e a outras autoridades, mas a facção que declarou o senador como inimigo quando era ministro da Justiça de Jair Bolsonaro é perigosa e capaz de se recompor com relativa facilidade.
Lula não tinha o direito de debochar de um adversário ameaçado pelo crime organizado, que, com a mulher e os filhos adolescentes, precisa de segurança 24 horas. É desumano, cruel e politicamente equivocado.
Aliás
Outro indício de que Lula está estressado e precisando de terapia ou de um bom conselheiro é a forma como ataca o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, trocando a crítica à alta do juro pela agressão pessoal.