Está faltando alguém no governo com autoridade para mostrar ao presidente Lula que sua insistência em baixar os juros na marra e as bravatas contra a independência do Banco Central em nada contribuem para resolver os graves problemas da economia brasileira. Se o juro está alto demais é porque a inflação teima em não retroceder e a solução não é aumentar a meta. Alguém precisa mostrar a Lula que pior do que a Selic a 13,5% é perder a controle da inflação, esse monstro que prejudica exatamente os mais pobres.
Nesta quarta-feira (7), em reunião com jornalistas de blogs de esquerda, o presidente repetiu quase as mesmas palavras usadas na véspera, durante a posse do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, contra a independência do Banco Central, por não ter conseguido baixar o juro nem a inflação. Com dois acréscimos: que quem pode demitir o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é o Senado, e que espera que os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, estejam atentos.
Ora, pois. É óbvio que os ministros estão atentos e sabem que só o Congresso pode revogar a independência do Banco Central. Sabem, também, que o governo não tem maioria para promover essa mudança.
Há múltiplas leituras sobre o comportamento hostil de Lula a Campos Neto. A saber:
O presidente realmente acredita que o presidente do Banco Central arbitra a taxa de juro sem olhar o mundo ao redor. Acorda no dia da reunião do Conselho de Política Monetária e diz: “Vamos manter em 13,75% e não se fala mais nisso”.
Lula está invocado com Campos Neto porque este foi nomeado por Jair Bolsonaro e se comporta como um bolsonarista, mesmo depois de aprovada a independência do Banco Central. O fato de ter ido votar com a camisa amarela da seleção brasileira no primeiro e no segundo turnos selou a desconfiança de que independente ele não é.
Para cumprir suas promessas de campanha, Lula precisa que a economia cresça. E, com juro alto, os empresários seguram investimentos, o que significa menos emprego, menos renda e menor consumo.
O juro alto seria, como definiu o jornalista José Paulo Kupfer, o bode expiatório perfeito para o caso de a economia não deslanchar no primeiro ano de governo.
Lula quer constranger Campos Neto para forçá-lo a renunciar.