Sem alarde, o governador Eduardo Leite e o senador Tasso Jereissati jantaram juntos em Brasília, na noite de terça-feira (24). Seria natural o encontro de dois tucanos, não fossem Leite e Jereissati adversários na prévia que escolherá o candidato do PSDB a presidente em 28 de novembro. O jantar ocorreu na casa do senador, que estava retornando a Brasília pela primeira vez desde o início da pandemia, período em que participou das sessões ordinárias e da CPI da Covid em modo remoto.
O jantar pode ser interpretado como um sinal de que, se desistir da disputa, como se especula nos bastidores, Tasso dará seu apoio a Leite e não ao governador de São Paulo, João Doria. O senador ficou incomodado com a entrevista de Doria no programa Roda Viva, da TV Cultura, em que deu como certa sua exclusão da disputa.
É fato que Tasso, ao contrário de Leite e Doria, largou parado. Ele e o quarto candidato, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, não circulam pelo país pedindo votos como os governadores do Rio Grande do Sul e de São Paulo.
As inscrições para a prévia serão formalizadas a partir de 12 de setembro. Até lá, é possível que Tasso e Virgílio recuem, mas Doria e Leite não dão sinal de que estejam dispostos a desistir da disputa em nome da unidade. Leite fez várias incursões pelo Nordeste e conta com a divisão do PSDB em São Paulo para fazer frente ao poder político e econômico do adversário, governador do Estado mais risco do país.
Para se credenciar como terceira via, o PSDB terá, antes, durante e depois da prévia, que tentar pacificar suas bases. A recente briga do deputado Aécio Neves com Doria é só um exemplo do nível de deterioração a que as relações chegaram. Aécio acusou Doria de estar comprando apoio e ouviu do governador que ele nem deveria mais estar no PSDB.
De fato, Aécio é uma bola de ferro que o candidato vencedor da prévia terá de carregar, pelo que a Lava-Jato descobriu de suas transações financeiras incompatíveis com a renda declarada. Como a operação foi sepultada com a bênção do presidente Jair Bolsonaro e as sentenças em que o ex-presidente Lula foi condenado acabaram anuladas, o peso do neto de Tancredo Neves será menor na campanha de 2022. Na prévia, porém, o apoio conta: Aécio tem o PSDB mineiro nas mãos e pode ser decisivo na disputa interna.
Agenda cheia
Em Brasília, Eduardo Leite participou da Marcha dos Legislativos Municipais, que reúne vereadores de todo o país até sexta-feira. Na saída, houve aglomeração, com dezenas de vereadores querendo tirar fotos com o governador gaúcho.
Antes, teve reunião no Ministério da fazenda com o secretário especial do Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Bruno Funchal, para tratar de temas que estão virando lenda: o andamento do processo de adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal, a dívida do Estado com a União e a situação fiscal do Rio Grande do Sul. O secretário da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso, e o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, participaram do encontro.