Mais de 1,4 mil gestores municipais de todo o país relataram que os frascos da vacina contra o coronavírus recebidos para a aplicação rendem menos do que as 10 doses preconizadas pelos fabricantes. A informação consta em um levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) na semana passada.
O questionário foi respondido por 2.938 prefeituras, das quais 1.516 (51,6%) relataram que os frascos não têm rendido as 10 aplicações esperadas. Destas, 1.435 (48,8%) indicaram que isso ocorreu porque havia um quantitativo menor de doses nos recipientes. Por sua vez, 1.338 cidades (45,5%) indicaram que os frascos recebidos contêm imunizante suficiente para as 10 doses. Outras 84 (2,9%) não responderam.
A pergunta feita no levantamento não mencionou uma vacina em específica, mas as queixas sobre a recepção de frascos com menos doses do que o indicado no rótulo se dirigem essencialmente à CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan. Na semana passada, reportagem de GZH mostrou que 127 prefeituras gaúchas apresentaram a reclamação. Na ocasião, o diretor do Butantan, Dimas Covas, garantiu que não há falhas no processo de envasamento e disse que a redução está associada a problemas que ocorrem na retirada das doses dos frascos, como o uso de seringas inadequadas.
Em nota enviada à coluna nesta segunda-feira (19), o Butantan informou que cada frasco da vacina contra o coronavírus contém 10 doses de 0,5 ml cada, totalizando 5 ml, e um conteúdo extra de cerca de 0,7 ml.
"Todas as notificações recebidas pelo instituto até o momento relatando suposto rendimento menor das ampolas foram devidamente investigadas, e identificou-se, em todos os casos, prática incorreta na extração das doses nos serviços de vacinação. Portanto, não se trata de falha nos processos de produção ou liberação dos lotes pelo Butantan", diz trecho do comunicado (leia a íntegra abaixo).
A coluna também procurou a Fundação Oswaldo Cruz, responsável pela produção, no Brasil, da vacina de Oxford-AstraZeneca, questionando se a instituição recebeu reclamações sobre uma eventual redução de doses nas ampolas. Até o momento, não houve retorno.
Divisão sobre reserva de doses
A pesquisa da CNM também constatou que os municípios se dividem em relação à reserva da segunda dose das vacinas. Das prefeituras que responderam ao levantamento, 1.449 (49,3%) estão reservando imunizantes para a aplicação seguinte, enquanto 1.426 (48,5%) aplicam todas as doses recebidas e aguardam novas remessas para completar a vacinação.
Outros dados da pesquisa demonstram que o risco de falta de oxigênio e dos medicamentos para a entubação de pacientes diminuiu em todo o país. Entre os municípios pesquisados, 33,2% apontaram que há risco de falta de medicamentos e 13,3% de escassez de oxigênio. Três semanas antes, os números eram, respectivamente 50% e 26,2%.
Leia a nota do Instituto Butantan
"O Instituto Butantan informa que cada frasco da vacina contra o novo coronavírus contém nominalmente 10 doses de 0,5 ml cada, totalizando 5 ml, e adicionalmente ainda é envasado conteúdo extra, chegando a 5,7 ml por ampola.
Esse volume, devidamente aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é suficiente para a extração das dez doses. É importante que os profissionais de saúde estejam capacitados para aspiração correta de cada frasco-ampola, além de usar seringas e agulhas adequadas, para não haver desperdício.
Todas as notificações recebidas pelo instituto até o momento relatando suposto rendimento menor das ampolas foram devidamente investigadas, e identificou-se, em todos os casos, prática incorreta na extração das doses nos serviços de vacinação. Portanto, não se trata de falha nos processos de produção ou liberação dos lotes pelo Butantan.
O Butantan realizou por meio de seus canais de comunicação informes técnicos no sentido de orientar os profissionais da saúde a usar as doses extras. Reforçamos que todas as investigações pertinentes foram feitas e todos os controles realizados nos lotes liberados foram avaliados. A conclusão encontrada, e já dividida com a Vigilância Sanitária, é que não se trata de falha nos processos de produção ou liberação dos lotes por parte do Instituto Butantan. Na verdade, trata-se de uma prática incorreta no momento do uso das doses.
É essencial que tais profissionais sigam as orientações e práticas adequadas, no intuito de evitar perdas durante a aspiração da vacina. Seringas de volumes superiores (ex: 3ml, 5ml), podem gerar dificuldades técnicas para visualizar o volume aspirado, uma vez que podem não possuir as graduações necessárias. Outro fator decisivo é a posição correta do frasco e da seringa no momento da aspiração.
O Instituto Butantan vem atuando juntamente aos gestores envolvidos na campanha de vacinação no intuito de orientar cada vez mais os profissionais responsáveis pelas aplicações das doses. Aproveitamos para esclarecer que o Butantan irá revisar a bula da vacina Coronavac, no intuito de promover de forma ainda mais clara as informações relacionadas à forma correta de se realizar a aspiração das doses, adicionando inclusive um QR Code que irá direcionar para um vídeo demonstrativo do procedimento."