Durou pouco a resistência do Ministério da Saúde em só confirmar a compra de mais 54 milhões de doses da CoronaVac em maio, como prevê o contrato assinado com a Fundação Butantan. Na quinta-feira (29) pela manhã, em entrevista ao Gaúcha Atualidade, o coronel Élcio Franco, secretário executivo do Ministério da Saúde, reafirmou que o governo esperaria até maio para confirmar a compra, porque até lá poderiam surgir novas vacinas. Nesta sexta-feira (30), a necessária reviravolta: o governo federal vai comprar todos os lotes previstos.
Funcionou a pressão do governador de São Paulo, João Doria, e do presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, por uma definição do Ministério da Saúde. Covas acenou com a possibilidade de o Butantan exportar as doses ou vendê-las a Estados e municípios que manifestaram interesse, caso o governo federal não confirmasse a compra. A pressão faz sentido: se é preciso importar os insumos da China, faz-se necessário planejar as compras com antecedência, para evitar que se repitam os entraves que estão atrasando a produção do primeiro lote de 46 milhões de doses.
Mesmo que a Anvisa libere outras vacinas — e deve fazer isso nas próximas semanas —, não há disponibilidade no mercado global para o Brasil encomendar e receber o volume necessário para imunizar pelo menos 70% da população com as duas doses que a maioria exige. Tudo o que o Butantan e a Fiocruz conseguirem produzir neste ano será absorvido pelo mercado brasileiro. Na hipótese de haver sobras, interessados não faltam.
Retardar a compra da vacina por divergências políticas, como o governo ameaçou fazer em outubro, só aumentaria o desgaste do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, alvo de um inquérito recém aberto pela Polícia Federal para apurar se houve negligência no colapso do sistema de saúde do Amazonas.
Apesar do apreço que o presidente Jair Bolsonaro tem por ele, Pazuello é forte candidato a cair na reforma ministerial, seja porque está desgastado, seja porque o Centrão cobiça o Ministério da Saúde ou ainda porque os militares não querem que o desastre sanitário respingue nas Forças Armadas.
Pazuello, como disse em outubro, no episódio em que foi desautorizado por Bolsonaro, no anúncio da compra da CoronaVac, obedece as ordens de quem manda. Em linguagem popular, sua figura pode ser comparada ao boi de piranha, sacrificado para salvar a tropa.
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