Dois movimentos do governo de Jair Bolsonaro indicam que o presidente foi convencido de que a negligência em relação à vacina contra o coronavírus teria preço altíssimo para seu projeto político. O primeiro, a confirmação de que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, se reunirá nesta terça-feira (8) com o Fórum de Governadores, para tratar de vacina. O segundo, um tuíte do próprio Bolsonaro, publicado por volta das 18h.
“Em havendo certificação da @anvisa_oficial (orientações científicas e preceitos legais) o @govbr ofertará a vacina a todos, gratuita e não obrigatória. Segundo o @MinEconomia, não faltarão recursos para que todos sejam atendidos. Saúde e Economia de mãos dadas pela vida”, escreveu Bolsonaro.
A reação do presidente ocorre depois do aumento da cobrança, por parte de governadores e prefeitos, por uma definição política do governo federal em relação ao plano de imunização, mas esse não é o fato político mais importante. O que tirou Bolsonaro da toca foi o anúncio do governador de São Paulo, João Doria, de um calendário para vacinar a população do Estado a partir de 25 de janeiro, com a vacina que será produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac.
Doria atropelou os prazos e anunciou seu calendário antes de ter a vacina aprovada pela Anvisa, o que explica a ressalva de Bolsonaro sobre a necessidade de certificação pela agência reguladora. Em uma reação ao anúncio de Doria, a Anvisa informou que ainda faltam muitos passos para aprovar a CoronaVac.
Em nota, a agência ressaltou que o Butantan ainda não encaminhou os dados da fase 3 dos testes clínicos, etapa final antes do registro. O governador informa que dados serão encaminhados até o dia 15, mas esse não é o único nem o principal obstáculo no caminho da vacina chinesa e do calendário doriano. A Anvisa deu a senha: o relatório da inspeção na fábrica da chinesa Sinovac, necessário para o registro, pode ficar pronto apenas no dia 11 de janeiro.
Com essas peças no tabuleiro, está montado o cenário para uma disputa de narrativas. De um lado, o governo federal dizendo que Doria anunciou um calendário sem ter certeza de que poderia cumpri-lo. Do outro, o governador acusando a Anvisa de retardar o registro, prejudicando a população e, em consequência, a economia.
Os brasileiros não podem ficar reféns da briga política entre Bolsonaro e Doria, que usam a vacina como elemento da disputa eleitoral de 2022. Se o Sinovac e o Butantan cumprirem todas as etapas para o registro da CoronaVac e a Anvisa fizer corpo mole, Bolsonaro perde pontos com a maioria silenciosa, que anseia por uma vacina que funcione, sem se preocupar com questões ideológicas.
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