O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Indignados com as mudanças nas carreiras propostas pelo governador Eduardo Leite, servidores da Brigada Militar (BM) articulam resistência ao que consideram um “achatamento salarial” forçado pelo Piratini. Em grupos de WhatsApp com oficiais de todas as patentes já circulam imagens de manifestações com cartazes e pneus queimando, além de áudios convocando a corporação para reações, aos quais a coluna teve acesso.
Nas entidades representativas dos brigadianos, que se reuniram com Leite na semana passada para conhecer o conteúdo do pacote, o clima é de enfrentamento com o governo e a previsão é de reação mais dura do que em 2015, quando familiares de policiais bloquearam a saída dos batalhões em protesto pelo parcelamento de salários.
— O governo está mexendo em um barril de pólvora e a reação será proporcional. (O aquartelamento) não está descartado. Tudo é possível. Sabemos que causa um transtorno grande para a população, mas com esse tipo e ataque, é uma reação em cadeia – diz o presidente da Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da BM (ASSTBM), Aparício Santellano.
Para José Clemente da Silva Corrêa, dirigente da Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf), que representa os cabos e soldados, o momento ainda é de negociação com o governo, mas manifestações não estão descartadas.
— A atividade da Brigada é realizar o policiamento preventivo ostensivo. O que não for papel da corporação, podemos orientar a não fazer.
Em cálculos preliminares, a Abamf estima que pelo menos 1,2 mil brigadianos irão imediatamente para a reserva remunerada caso os projetos de Leite sejam aprovados pela Assembleia. Para a ASSTBM, o número pode estar entre 1,5 mil e 2 mil.
Entre as medidas propostas pelo governo do Estado no pacote de projetos que será enviado à Assembleia, estão cortes nos adicionais por tempo de serviço, fim de triênios e quinquênios, alteração na aplicação do adicional por risco de vida, postergação da aposentadoria compulsória e aumento na contribuição previdenciária.
— Um brigadiano tem uma fração de segundos para decidir entre a vida e a morte. É muito o que ele ganha para arriscar a vida por alguém que ele nem conhece? O governante que acha que a segurança é uma despesa não deveria estar sentado naquela cadeira — completa Santellano.
Como contraproposta à iniciativa de Leite, as entidades representativas sugerirão que, em troca no corte de benefícios, os policiais passassem a receber por subsídio, com uma remuneração fixa para cada posto de graduação interna.
Como os servidores não cogitam aceitar qualquer proposta de contenção dos salários, a medida não traria uma economia significativa — justificativa usada pelo Piratini para a mudança nas carreiras.