Sem marca de gestão a mostrar, a não ser o caos instalado, o presidente Jair Bolsonaro aguarda as manifestações pró-governo do dia 26 de maio para aferir o tamanho do apoio que mantém nas ruas. Se por um lado a grande adesão propiciaria anuência ao comportamento do presidente, por outro, caso o protesto seja esvaziado, começará ali outro problema a ser resolvido.
É arriscada a estratégia de aliados já que, em quase cinco meses de trabalho, poucas boas ações foram entregues pelo Planalto à população. Pelo contrário: o desemprego continua em alta, o dólar não para de subir e há risco de a inflação crescer com a ameaça de Bolsonaro de imprimir mais dinheiro para pagar as contas do setor público.
Quando endossou mensagem de texto distribuída pelo WhatsApp, dizendo que o país é ingovernável sem conchavos, o presidente insinuou que a estagnação é provocada pelo Congresso e não pela sua inabilidade de diálogo. Na internet, Major Olímpio, líder do PSL no Senado, ajuda desta forma a convocar apoiadores para a manifestação do dia 26: “Escolhemos um presidente por sua honestidade e patriotismo, sabíamos que sofreria muito para governar diante da podridão existente na política. Não podemos abandoná-lo nesse momento tão importante”.
Vozes mais moderadas do PSL opinam que a convocação de manifestações pode ser um tiro no pé do próprio governo.
“Não tem cabimento deputados eleitos legitimamente fugirem das dificuldades de convencer os colegas (ser parlamentar é difícil) e ficarem instigando o povo a gerar o caos”, escreveu Janaína Pascoal, referindo-se a possível instabilidade entre os poderes.
Sem o suporte do MBL e de outros grupos que apoiaram Bolsonaro no segundo turno, os atos convocados para o próximo domingo perdem força. Pelo desempenho da bolsa de valores percebe-se que o mercado já não está mais tão afinado com o governo como era há quatro meses. Os militares, embora permaneçam firmes na defesa do projeto de gestão, também ficaram aborrecidos com o tratamento dado a eles pelo presidente, que preferiu não intervir quando Olavo de Carvalho passou a xingá-los.
Por Bolsonaro desprezar o diálogo com o Congresso, a aprovação da reforma da Previdência, solução para todos os problemas do Brasil segundo o governo, encontra obstáculos que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não previa e que fazem investidores perderem a confiança. Caso as manifestações não tenham o público esperado, deputados e senadores terão o aval para atuar em linha própria, ainda que resolva os problemas gerados pela falta de articulação do governo.
Diante da inabilidade do Planalto, deputados querem agora um projeto de reforma da Previdência para chamar de seu e fazer tramitar. A ideia é mostrar um Congresso preocupado com o que importa, apesar do presidente.