Primeira consequência da decisão do Supremo Tribunal Federal que autorizou a Polícia Federal a fechar acordos de colaboração premiada, a homologação da delação do ex-ministro Antonio Palocci complica ainda mais a já difícil situação do ex-presidente Lula.
É, também, um golpe na esperança dos petistas que apostam todas as fichas na candidatura de Lula, apesar de ter sido condenado em segunda instância e de estar preso desde 7 de abril, em Curitiba.
Palocci tentou, sem sucesso, fechar um acordo com o Ministério Público Federal. Como não conseguiu, negociou com a Polícia Federal os termos homologados pelo desembargador João Pedro Gebran Neto, relator da Operação Lava-Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Embora os termos do acordo sejam mantidos em sigilo, Palocci já deu a letra do que tinha para delatar no depoimento ao juiz Sergio Moro e na carta em que pediu sua desfiliação do PT, em setembro de 2016, antecipando-se à expulsão. Pelos papéis que ocupou nos governos de Lula e de Dilma Rousseff, o ex-ministro tem um peso diferente de outros delatores. Ministro da Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil de Dilma, Palocci é o primeiro (e talvez venha a ser o único) petista a fazer acordo para contar o que viu pelo lado de dentro do governo.
O ex-senador Delcídio Amaral não conta, porque, embora tenha sido filiado ao PT, não tinha poder no governo. Contou sobre coisas de que ouviu falar. Palocci integrou o coração do governo e foi, na campanha de 2002, um dos responsáveis por quebrar o gelo com
o empresariado que não confiava em Lula. Foi dele o texto-base da Carta ao Povo Brasileiro, que Lula leu em junho de 2002 e acalmou o mercado financeiro às vésperas da eleição.
No livro Sobre Formigas e Cigarras (Editora Objetiva, 2007), o ex-ministro detalha seu papel nos dias que se seguiram à eleição de Lula, conta como virou ministro da Fazenda, apesar de ser médico, e gaba-se de suas habilidades na relação com o mercado. Da leitura do livro deduz-se que ele era a formiga que trabalhava enquanto as cigarras cantavam. Uma releitura atualizada não
pode ignorar quão devastadoras são as formigas em uma plantação.
Mesmo sem conhecer os termos da delação, os líderes do PT – Dilma entre eles – dizem que Palocci mente para salvar a pele e sair da prisão, onde está desde setembro de 2016. O ex-ministro foi condenado a 12 anos, dois meses e 20 dias de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Pelo que já vazou da delação, Palocci compromete Lula e Dilma e detalha pagamentos de propina ao PT, com o conhecimento e o aval do ex-presidente, por empreiteiras investigadas no escândalo da Petrobras. Na carta enviada ao PT em setembro de 2016, Palocci diz que “houve uma evolução e acúmulo de corrupções nos governos a partir do segundo mandato de Lula” e que “foi um choque ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo”.