As cotas não foram suficientes para ampliar de forma significativa a presença de mulheres nos espaços de poder no Brasil. A má notícia neste Dia Internacional da Mulher é que a situação tende a piorar nas eleições deste ano, por uma conjunção de fatores, a começar pela falta de dinheiro: em um cenário de escassez, a tendência é de os partidos investirem mais nos candidatos homens. Pelo cenário que se desenha, é possível que as urnas de 2018 reduzam ainda mais a participação feminina nos governos estaduais, no Senado, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas.
Essas previsões pessimistas, feitas a partir das candidaturas postas até agora, são referendadas pela diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo.
– Faltam mulheres porque falta sensibilidade nos partidos políticos, que ainda são redutos masculinos – diz Jacira Melo, com a autoridade de quem estuda as questões de gênero, participa de debates dentro e fora do país e domina os números sobre participação de mulheres na vida pública.
Jacira lembra que 5% dos recursos do fundo partidário deveriam ser gastos com a preparação de mulheres para o exercício da política, mas ninguém fiscaliza como esse dinheiro está sendo aplicado pelas cúpulas, que são essencialmente masculinas.
– As mulheres deixaram de ser laranjas nas chapas, porque a Justiça Eleitoral apertou a fiscalização do cumprimento das cotas, mas ainda são figurantes – define Jacira.
No cenário nacional, com 20 pré-candidatos alinhados, só há três mulheres – Marina Silva (Rede), Manuela D’Ávila (PC do B) e Valéria Monteiro (PMN). Mesmo com bom desempenho nas pesquisas, Marina corre o risco de não viabilizar sua candidatura por falta de apoio. Nos Estados, nenhuma mulher desponta como favorita na eleição para governador.
O Rio Grande do Sul tem hoje apenas uma senadora, duas mulheres na Câmara dos Deputados e nove na Assembleia. Na maior parte do tempo, o governo do Estado teve apenas duas secretárias (Maria Helena Sartori e Ana Pellini). Agora ganhou mais uma (Susana Kakuta). Na prefeitura de Porto Alegre, a única mulher no primeiro escalão (Denise Russo) é interina na Secretaria de Desenvolvimento Social.
Aliás
Michel Temer, que montou uma equipe com pouquíssimas mulheres, poderia quebrar a imagem de machista se indicasse a Secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, para o Ministério da Fazenda, se Henrique Meirelles sair. Competência ela tem de sobra.