Duas vezes candidata à Presidência da República, uma por opção e a outra empurrada pela fatalidade da morte de Eduardo Campos, Marina Silva (Rede) está no jogo de 2018, mas sem muita convicção. Pode concorrer a presidente, a vice ou a nada, dependendo das circunstâncias. Se for candidata ao Planalto, sabe que vai enfrentar uma pedreira com um partido sem dinheiro nem estrutura, disputando com adversários que terão os recursos materiais que faltam à Rede, mas acredita que seu capital são a biografia e a coerência.
Na aparência, nos hábitos e no discurso, Marina segue praticamente a mesma de 2014, quando foi massacrada pelo marketing agressivo da candidata Dilma Rousseff. Pesa menos de 50 quilos, toma água morna (37ºC) como tratamento para prevenir dores no nervo ciático e dá respostas evasivas para perguntas que poderão lhe custar algum embaraço ali adiante, se entrar na campanha.
Na entrevista que deu a Zero Hora, na tarde desta sexta-feira, se fez de desentendida ou apelou para a ironia ao comentar declarações indelicadas dos pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSC) envolvendo seu nome. Ciro disse que na situação em que está, “o Brasil precisa de testosterona” e que Marina não tem energia para encarar uma campanha que será marcada pela agressividade. Condescendente, Marina interpretou a declaração de Ciro como um simples reconhecimento de que ela não tem um estilo agressivo. O epíteto “tartaruga vermelha”, usado por Bolsonaro para tentar desqualificá-la, não incomoda a ex-senadora, que prefere não duelar com o deputado:
– Para mim é um elogio. Sou ambientalista e gosto muito de animais.
No terreno da gestão, Marina segue o script da campanha de 2014, com respostas cautelosas. Reconhece que o Brasil precisa de uma reforma previdenciária, pela mudança no perfil demográfico, mas critica a proposta do presidente Michel Temer, sem detalhar qual seria a sua. Lembra apenas que na campanha passada ela já apontava a necessidade de mudar a Previdência e nem Dilma nem Temer admitiam essa possibilidade.
– Eles só diziam que tudo no Brasil era lindo e maravilhoso – disse.
A ex-senadora também critica a reforma trabalhista, mas se fixa em apenas dois pontos: o trabalho intermitente e a permissão para grávidas trabalharem em locais insalubres. Bem-humorada, critica as alianças a qualquer preço, feitas em nome de um projeto de poder, como a que uniu o PT e o PMDB:
– Se você se junta com o diabo, o rabudo vai querer governar com você.
Não se arrepende do apoio dado a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014. Justifica que as circunstâncias exigiam uma escolha entre ele e Dilma e não sabia que o senador mineiro era o que se revelou nas negociatas com Joesley Batista.
Mesmo sabendo que está queimando pontes com a esquerda, mantém o que dizia em 2016 sobre o impeachment de Dilma Rousseff:
– Não foi golpe. O processo ocorreu dentro da lei, com aval do Supremo Tribunal Federal.
Aliás
Marina Silva não se ilude com o terceiro lugar nas pesquisas, que vira primeiro nos cenários sem a presença de Lula. Diz que pesquisa é um retrato do momento e que muita água vai rolar até a eleição. Não é a única a fazer essa leitura: na esquerda e na direita, a percepção é idêntica.