Se era um balão de ensaio lançado para medir a repercussão na opinião pública, a ideia de votação secreta para decidir sobre o futuro do senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem tudo para murchar durante o fim de semana. Por indefensável, o arranjo só recebeu críticas. Além de não ter justificativa legal clara, o voto secreto seria uma contradição em relação ao procedimento adotado pelo próprio Senado no caso de Delcídio Amaral (ex-PT-MS), que acabou cassado depois de um rápido processo no Conselho de Ética.
Os maiores interessados em que a decisão se dê de forma transparente são os senadores que concordam com o afastamento de Aécio do mandato, na forma determinada pela 1º Turma do Supremo Tribunal Federal. Mesmo com o feriadão em Brasília, esses senadores se encarregaram de expressar posição favorável ao voto aberto, temerosos de que um processo às escuras acabe contaminando a todos, inclusive aos adversários do ex-presidente do PSDB.
Criticados pela decisão de deixar para as casas legislativas a tarefa de referendar medidas cautelares que impliquem afastamento ou dificuldade para o exercício do mandato, os ministros do Supremo acabaram entregando um presente de grego aos senadores. Agora, cada um terá de pagar o preço do desgaste com os eleitores, se ficar alinhado com Aécio, ou de trair a corporação, se votar pelo afastamento.
Os que protestavam contra a decisão do Supremo, e reclamavam de interferência indevida de um poder sobre o outro, terão de fazer o papel de juízes do colega. Por solidariedade partidária, os senadores do PSDB deverão ficar ao lado do companheiro e pagar a conta do desgaste com os eleitores. Para os adversários, incluindo os petistas que criticaram as medidas impostas pelo Supremo, a tarefa é ainda mais fácil: votarão contra o senador mineiro sem nenhum sentimento de culpa. Alguns ainda experimentarão o doce sabor da vingança.
Difícil mesmo é a posição dos aliados. Ao governo de Michel Temer interessa preservar o senador tucano, que se revelou fiel nos momentos de rebeldia da ala jovem do PSDB. Temer mexe os cordões para salvar Aécio, até por saber que tem entre os seus companheiros do PMDB figuras tão ou mais enroladas na Lava-Jato do que o ex-governador mineiro.
ALIÁS
Diante da possibilidade de o Senado optar pelo voto secreto para decidir sobre o afastamento de Aécio Neves, vale lembrar a frase de Louis Brandeis (1856-1941), juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos: “A luz do Sol é o melhor detergente”.