Os últimos movimentos do presidente Michel Temer indicam que ele está disposto a se manter no poder a qualquer preço. A frase "se quiserem que eu saia, têm que me matar", dita ao presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE), não era figura de linguagem: a guerra para a qual o presidente se pintou inclui frentes de batalha no Congresso, no Judiciário e na sociedade. Como precisa dos votos de pelo menos 172 deputados para barrar uma investigação, se for mesmo denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nos próximos dias, a fatura não será barata.
O maior risco é desmontar a equipe econômica, que sustenta os poucos resultados positivos do governo, para manter o poder a qualquer custo. Parte desse arsenal, apelidado de "pacote de bondades", pode acabar ferindo os fundamentos da política econômica e afugentando os homens que emprestaram sua credibilidade ao governo, como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Em um governo repleto de figuras menores, a grife Maria Silvia Bastos Marques, presidente do BNDES, foi a primeira a tombar.
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Para conseguir um mínimo de apoio popular, o Planalto estuda aumentar o valor do Bolsa Família além da inflação e corrigir a tabela do Imposto de Renda, o que, em outras circunstâncias, não seria mais do que a obrigação. São medidas de impacto nas contas públicas, que Meirelles se comprometeu a equilibrar.
Na Câmara, o preço do apoio do baixo clero pode ser calculado na forma de emendas, de cargos e de atendimento de demandas regionais, nem sempre alinhadas com o interesse nacional. O PSDB aprovou a permanência na base com o argumento da governabilidade e do apoio às reformas, mas a pressão interna pela saída vai crescer de acordo com a consistência da denúncia que Janot deve protocolar nos próximos dias. Mesmo que esteja no pacote a salvação de Aécio Neves no Conselho de Ética do Senado e um eventual apoio do PMDB na eleição de 2018, os tucanos farão avaliação permanente do risco de sinistro.
Caso a situação política de Temer se complique, a tendência é o PSDB se afastar do governo para evitar o contágio, o que elevaria o preço da proteção dos remanescentes de partidos menores.
Hoje, Temer tem votos de sobra para escapar da investigação, mas convém lembrar que, em 1992, Fernando Collor também tinha, poucos dias antes da votação do impeachment. O efeito manada se consolidou na semana anterior à votação, por força das manifestações de rua contra Collor.
A frente de batalha mais delicada é a do confronto com o Ministério Público Federal e com o Supremo Tribunal Federal, com a tentativa de desqualificação do procurador Rodrigo Janot e do ministro Edson Fachin. O risco é de, na guerra com o Judiciário e com o MPF, o presidente levar um tiro no pé e tornar-se um pato manco.