Com dificuldade para convencer os deputados da base aliada de que será desastroso para o Estado não eliminar a exigência de plebiscito para vender ou federalizar a CEEE, a CRM e a Sulgás, os interlocutores do governo passaram a usar a figura do bumerangue nas conversas com a base. O chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi, e o líder do governo, Gabriel Souza, vêm alertando os deputados para o risco de a CRM quebrar e a CEEE perder valor às vésperas da eleição de 2018, se a proposta do governo for rejeitada.
– Voto tem consequência – adverte Gabriel, tomando emprestado um pedaço do slogan de uma campanha da Justiça Eleitoral pelo voto consciente.
Hoje, o governo não tem os 33 votos necessários para aprovar o fim da exigência de plebiscito para vender as empresas do setor elétrico e, assim, aderir ao programa de recuperação fiscal do governo Michel Temer.
A proposta de passar adiante as três estatais está assentada em três pilares:
1. O Estado não tem dinheiro para investir. Sem investimento, a Sulgás não consegue ampliar a oferta de gás e a CEEE Distribuidora corre o risco de perder a concessão, o que seria uma sentença de morte. Pior ainda é a situação da CRM,
que enfrenta dificuldades até para pagar os salários.
2. Sem a autorização para vender as estatais, o Estado não terá como aderir ao programa de recuperação fiscal. Não aderindo, perderá a chance de ganhar uma carência de três anos no pagamento da dívida com a União e não poderá se candidatar a novos empréstimos.
3. O governador José Ivo Sartori e sua equipe têm convicção de que o Estado deve restringir sua atuação a áreas essenciais e deixar tarefas como a produção e distribuição de energia para o setor privado.
– Se essas estatais quebrarem, os deputados não poderão dizer que não foram avisados. Um Estado que não consegue nem pagar os salários não tem como aportar dinheiro nas estatais – diz o secretário Carlos Búrigo, responsável pelo estudo que embasou a proposta de enxugamento da máquina.
Em 2016, o governo chegou a pensar em realizar o plebiscito junto com a eleição, mas foi demovido pelos aliados, que temiam prejuízo eleitoral. Agora já não há tempo para o plebiscito: o trâmite é demorado e o governo precisa de dinheiro para ontem. Se não conseguir acesso a novos financiamentos, e tiver de retomar o pagamento integral da dívida, o temor é de um colapso no segundo semestre deste ano.