O clamor da população pelo uso das Forças Armadas no combate ao crime sempre esbarrou na resistência dos ministros da Defesa e dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. A alegação era de que os soldados são treinados para a guerra e que seria arriscado colocá-los nas ruas, no papel de polícia ostensiva. A partir da decisão do presidente Michel Temer de incluir as Forças Armadas no combate ao caos nos presídios, os governadores poderão pedir socorro em casos excepcionais, mas isso não pode ser visto como panaceia. Serão ações pontuais, em operações de contenção de rebeliões e de varreduras para apreensão de armas, drogas e celulares nos presídios.
Que ninguém se iluda imaginando que os soldados substituirão agentes penitenciários ou policiais militares que hoje cuidam dos presídios. Essa tarefa continuará sendo de responsabilidade dos Estados, mas é um avanço indiscutível, como foi a criação da Força Nacional, poder requisitar ajuda em casos de emergência.
No Rio Grande do Sul, o Exército já vem cooperando com o governo, seja na reforma do prédio que abrigará o Centro de Triagem e que deverá estar pronto em 20 dias, seja nas barreiras conjuntas com a Brigada.
A solução para o problema do sistema carcerário é bem mais complexa do que chamar as Forças Armadas para retirar drogas. armas e telefones de circulação. Antes de mais nada é preciso construir presídios, para acabar com a superlotação que transforma as cadeiras em barris de pólvora. E impedir que o material apreendido retorne valorizado pela lei da oferta e da procura.
O secretário da Segurança, Cezar Schirmer, é cauteloso. Diz que não está clara a forma como se dará o socorro aos Estados. Os detalhes serão definidos pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em reuniões regionais com os governadores.
Schirmer disse ao ministro que a melhor ajuda que as Forças Armadas podem dar é patrulhar as fronteiras par impedir a entrada de armas e drogas. O secretário também propôs que seja criada uma linha especial de crédito do BNDES ou do Banco Mundial, com juros baixos e prazos longos de carência e de pagamento, para construir presídios por um sistema diferenciado e mais rápido.