Diante da tragédia que representa para o país a morte prematura do ministro Teori Zavascki, caberá à ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, tomar nas próximas horas a decisão que vai definir o futuro da Lava-Jato. Pelo seu perfil, a tendência é de que consulte seus pares antes de decidir se espera pela nomeação do sucessor de Teori ou se redistribui os processos que estavam com o ministro. O menos provável é que opte por deixar a Lava-Jato congelada, enquanto se desenrola o processo de indicação do novo ministro, pelo presidente Michel Temer.
A primeira manifestação de Cármen Lúcia, ao comentar a morte de Teori, foi de que estava arrasada e que "os homens morrem e a Justiça fica". Mais tarde, em entrevista à Rádio Gaúcha, a ministra ampliou esse pensamento e deixou no ar a sensação de que tende pela indicação do novo relator entre os atuais ministros do Supremo. Disse Cármen Lúcia:
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– O Supremo é contínuo. Nós já perdemos, em algumas ocasiões, grandes juízes, como é a perda de hoje. Aconteceu alguns anos atrás com o ministro Menezes Direito, que foi, inclusive, colega do ministro Teori (e que teve os processos redistribuídos pelo então presidente Gilmar Mendes). O Supremo sabe que, apesar de toda dor humana, temos o enorme compromisso com a sociedade, que espera justiça, que é contínua. A vida passa, os valores, não (...). Não fosse com ele, tivesse sido comigo, haveria alguém aqui para dar continuidade. A Justiça não é descontínua. Morrem as pessoas, a Justiça não.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Sul, Ricardo Breier, que defende a redistribuição imediata do processo da Lava-Jato para um dos atuais ministros, interpretou as linhas e as entrelinhas da fala da presidente como um sinal de que ela irá por esse caminho:
– Ela tem toda a legitimidade para não paralisar o processo. A homologação das delações premiadas é uma etapa crucial, que não pode esperar pela nomeação de um novo ministro.
O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, vai na mesma linha:
– A ministra Cármen Lúcia certamente não vai querer colocar gasolina numa crise institucional. A redistribuição imediata é imperativa para que a Lava-Jato não seja paralisada.
Lamachia divulgou nota dizendo que "aguardar a nomeação do sucessor de Teori para a continuidade dos trabalhos já em curso servirá apenas para agravar o ambiente político-institucional do país". A nota aponta o artigo 68 do regimento interno, com vários incisos que respaldariam, do ponto de vista legal, a opção pela escolha de um novo relator entre os atuais ministros.
Lamachia lembra que, ao manter uma força-tarefa trabalhando durante o recesso, Teori mostrou que tinha pressa. De fato, o ministro confidenciou a amigos e ao filho Francisco que pretendia homologar as delações da Odebrecht no início de fevereiro.