Se a semana que termina teve como protagonistas o ex-deputado Eduardo Cunha, cassado na segunda-feira pela Câmara, e o ex-presidente Lula, denunciado à Justiça Federal na quarta-feira, a próxima será do juiz Sergio Moro. Está nas mãos dele o destino da denúncia do Ministério Público Federal, que acusa Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Se Moro aceitar a denúncia, como espera o Ministério Público, Lula terá de fazer a defesa no mérito, para evitar a condenação. Até aqui, o ex-presidente fez uma defesa política, em pronunciamento de mais de uma hora na quinta-feira. Seu advogado contestou os procuradores com o argumento de que Lula não é dono do triplex do Guarujá apontado como objeto de pagamento de propina pela empreiteira OAS. Lula também é acusado de lavar dinheiro por meio do aluguel, pela OAS, de um depósito onde foram guardados objetos que integravam a mudança do ex-presidente, quando deixou o Palácio da Alvorada.
Leia mais:
Para Gilmar Mendes, denúncia na Lava-Jato "dá segurança a Lula"
"Provem uma corrupção minha e eu irei a pé para ser preso", diz Lula
Juristas avaliam o peso das acusações do MPF contra Lula
Se Moro não aceitar a denúncia, desmoralizará os procuradores que, sob o comando de Deltan Dallagnol, acusaram Lula de ser o grande general do esquema de corrupção nas estatais. A forma, mais do que o conteúdo, foi criticada até por inimigos de Lula, para quem os rapazes do MPF exageraram nos adjetivos.
No afã de se defender, Lula acabou cometendo exageros dos quais cedo ou tarde acabará se arrependendo. No discurso irado contra os procuradores, a quem acusou de não entenderem nada de política e de governabilidade, produziu um trecho que dá a ideia de conivência com os malfeitos: "Eu, de vez em quando, falo que as pessoas achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo, e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e está com emprego garantido o resto da vida. O político não. Ele é chamado de ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de filho do pai, é chamado de tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o seu emprego".
Lula pode dizer que estava se referindo ao político chamado injustamente de ladrão, mas o que ele disse textualmente foi: "Por mais ladrão que ele (o político) seja, ele tem de ir para a rua encarar o povo".
A população, que diante de tantos escândalos está descrente da política e dos partidos, tem motivos de sobra para discordar de Lula. Sim, ainda há políticos honestos, mas também há corruptos em quantidade acima do razoável e que se elegem porque escaparam da Justiça.