De maio até a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, Michel Temer viveu ancorado na expectativa dos agentes econômicos e no que se poderia chamar de Lei Tiririca: “Pior do que está, não fica”. Na volta da China, terá de começar a dizer a que veio. A desculpa de que antes não podia fazer nada porque era interino não serve mais.
O primeiro teste será a votação da proposta que eleva os subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e que, pelo efeito cascata nos Estados, resultará numa conta bilionária para os brasileiros. Na China, questionado sobre o projeto que está no Senado, Temer tergiversou. Disse que não há consenso e que sua atuação se dará quando chegar ao Planalto para ser sancionado ou vetado. Ao dizer que não é momento de criar novos gastos, deu a entender que vetará o projeto. Não seria mais fácil conscientizar a base aliada para que rejeite o aumento e mostre ao país seu compromisso com o ajuste?
Para impor sacrifício aos assalariados, não bastará assustar com o risco de faltar dinheiro para as aposentadorias se não houver reforma da Previdência, nem dizer que a alteração da legislação trabalhista tem por objetivo gerar empregos. Será preciso mostrar que o andar de cima também dará um pouco de sangue.
Nas duas primeiras manifestações depois da posse, Temer falou das reformas que vai propor ao Congresso. As dificuldades para aprovar qualquer medida mais impopular serão enormes. Primeiro, porque deputados e senadores não gostam de se indispor com os eleitores. Segundo, porque o próprio Temer carece da legitimidade que só as urnas conferem. Terceiro, porque, embora o governo Dilma tenha batido recordes de impopularidade, o dele não está muito melhor aos olhos dos brasileiros.
Uma compilação das últimas pesquisas do Ibope nas capitais, feitas antes da aprovação do impeachment, mostra que em todas os índices de ruim e péssimo superam, em muito, os de bom e ótimo. A pior relação entre avaliação negativa e positiva foi registrada em Salvador, uma cidade onde o prefeito ACM Neto (DEM), aliado de Temer, deve ser reeleito no primeiro turno. Na capital baiana, Temer tem 53% de ruim e péssimo e apenas 8% de bom e ótimo, o que dá um saldo negativo de 34 pontos percentuais. O melhor desempenho foi registrado em Manaus, 19% de bom e ótimo e 36% de ruim e péssimo.
Antes de propor qualquer reforma, o presidente vai precisar reunificar os grupos que se digladiam em seu próprio partido. Foi esse o recado dado pelo senador Aécio Neves, ao sugerir que ele discuta a relação com o PMDB. Aécio lembrou que “sem o apoio do PSDB, não existirá governo Temer”.