O posicionamento do PT na eleição para a presidência da Câmara, disputa na qual apoia o ex-ministro da Saúde Marcelo Castro (PMDB-PI), indica que o partido parece não ter aprendido nada com a sucessão de acontecimentos que resultaram na corrosão da base do governo Dilma Rousseff no Congresso e no afastamento da presidente. Distantes da retórica contra o "golpe" e dos apelos de seus militantes por uma guinada ideológica na condução da sigla, os deputados petistas optaram pelo pragmatismo e resolveram votar em um candidato que, embora seja da parcela dissidente do PMDB, está longe de ser o representante das pautas progressistas que o PT defende.
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Questionado pela Folha de S.Paulo a respeito de temas espinhosos, como a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a legalização do aborto, o repasse da atribuição de demarcação de terras indígenas do Executivo para o Congresso e o Estatuto da Família, o ex-ministro tergiversou. Sobre o último assunto, aliás, recusou-se a opinar. Entre apoiar Castro e a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), inegavelmente mais alinhada com as ideias defendidas pelos parlamentares do PT, prevaleceu a vontade dos que ainda enxergam chances de derrotar o candidato da base aliada, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o homem de Cunha, Rogério Rosso (PSD-DF).
A incapacidade do PT de lançar um nome próprio com o mínimo de viabilidade na eleição evidencia como o partido vem perdendo relevância no Congresso. Depois de falhar nas articulações para eleger Arlindo Chinaglia (PT-SP) presidente na disputa com Eduardo Cunha, em 2015, a sigla perdeu de vez o controle da Casa e viu a base se esfacelar em progressão geométrica, sendo insuficiente para evitar o impeachment.
Maria do Rosário (PT-RS) até que tentou candidatar-se ao posto, mas a sua ideia durou poucas horas e logo em seguida o PT anunciou apoio a Marcelo Castro. É mais fácil – mas nem tanto – explicar os votos a um candidato que já foi ministro de Dilma e votou contra o impeachment, mas o contexto da eleição e a forma como têm agido os seus dirigentes e deputados mostra que o PT perdeu a força para costurar acordos e conchavos pela cartilha da política tradicional. Sem capacidade de se reagrupar e de conquistar novos apoios, o destino do partido é um encolhimento ainda maior.
* A colunista Rosane de Oliveira está em férias.