Você, certamente, pensou que não ia viver pra ver: dinheiro da corrupção voltando aos cofres públicos e empreiteiras pagando multas milionárias em acordo de leniência para não perder o direito de continuar prestando serviços ao setor público. O acordo de delação da Andrade Gutierrez, firmado com a Procuradoria-Geral da República, é o primeiro na casa do bilhão.
Andrade Gutierrez confessa suborno na Copa e pagará multa de R$ 1 bi
Maracanã e Arena Amazônia teriam envolvido propina
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A Andrade Gutierrez confessa o que a força-tarefa da Lava-Jato já sabia: que pagou propina em obras da Copa do Mundo. Quais e para quem é o que se saberá quando os executivos começarem a falar o que sabem. Quem recebeu já pode ir colocando as barbas de molho. Para um acordo desses vingar, é preciso que as informações fornecidas sejam confirmadas. Como num castelo de cartas, mais gente vai cair nesse efeito dominó, em que os corruptores entregarão os corruptos.
Antes da Andrade Gutierrez, a Camargo Corrêa aceitou fazer acordo e pagar R$ 800 milhões de multa. Para se ter ideia da grandeza desses números, basta dizer que só a multa cobre o valor da obra da nova ponte do Guaíba. Recapitulando, as empreiteiras não são santas nessa história. Formaram um clube para superfaturar o preço de obras públicos. Venceram concorrências puxando os preços para cima, forçaram aditamentos de contratos e fizeram sangrar os cofres públicos. E não fizeram isso apenas com as obras da Copa. Se retrocedermos aos anos 1950, chegaremos à construção de Brasília e a uma fartura de histórias de corrupção envolvendo empreiteiras.
O tumor que cresceu nos últimos 60 anos explodiu com a Lava-Jato e não para de expelir podridão. A Petrobras foi achacada por uma alcateia de executivos e políticos corruptos, mas não é o único foco. A Lava-Jato abriu as portas do inferno e não tem prazo para acabar. Como disse um dos integrantes da força-tarefa, o procurador Douglas Fischer, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, terá tantas fases quantas forem necessárias para estancar a corrupção que suga os cofres públicos.