"Parece BERLIM" foi um dos comentários mais comuns entre quem circulou em Porto Alegre na noite de sábado e viu a cidade pulsando com uma vibração cultural, urbana e comunitária inédita. Gente de todas as idades e classes sociais, famílias com crianças pequenas, estudantes, idosos, trabalhadores – uma multidão saiu de casa para conferir a Noite dos Museus, programação que promoveu mais de 30 apresentações musicais gratuitas em oito dos principais espaços culturais da Capital.
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A comparação com Berlim não era gratuita: a maratona noturna inspirou-se na Lange Nacht der Museen (“A Longa Noite dos Museus”), evento que rola na capital alemã desde 1997. Em sua versão gaúcha, a função rendeu uma noite incrível, sem precedentes na cidade: entre as 19h e a meia-noite, centenas de pessoas passearam pelo Centro Histórico despreocupadas e contentes, admirando tranquilamente a bela arquitetura da região – que a correria cotidiana nos impede de observar com atenção.
Minha longa jornada noite adentro começou no Margs, apinhado de visitantes como não se via há muito tempo (na foto). Hique Gomez fez a abertura interpretando um inspirado texto sobre musas, museus e cultura. Em seguida, fui conferir o Quinteto Porto Alegre animar o igualmente lotado Memorial do RS.
O prédio da Casa de Cultura Mario Quintana ficou ainda mais bonito todo iluminado e com o povo caminhando pela Travessa dos Cataventos – onde um protesto contra o presidente provisório Michel Temer rolou na boa, em meio aos vendedores de discos de vinil e os transeuntes. No MACRS, no sexto andar da CCMQ, em torno de um performer vestido de anjo enrodilhado em um ninho, o clima artístico era sonorizado por músicos como Yanto Laitano. Ainda no Centro, a Pinacoteca Ruben Berta teve seu auditório tomado por ouvintes atentos ao miniconcertos de chorinho e música instrumental.
O mais bacana é que a mobilização espraiou-se também pelos outros pontos: indo para a zona sul, a Fundação Iberê Camargo – que se destacava na noite graças à iluminação especial – recebeu mais de 2 mil pessoas, que se ajeitaram no chão, nas rampas e nas amuradas para assistir a atrações musicais como o duelo de fagotes entre Fábio Mentz e Adolfo Almeida Jr.
Minha peregrinação encerrou-se literalmente nas estrelas, assistindo a uma projeção sobre o cosmonauta soviético Iuri Gagarin no Planetário, depois de um pocket show da sempre ótima Marmota Jazz.
Quem viu não esquecerá tão cedo – e vai querer mais. Que venham outras noites dos museus – e dos teatros, dos cinemas, das praças, da orla do Guaíba. A cidade precisa ser tomada pela cultura e pela cidadania, né? #OcupaPortoAlegre