O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Cidades no norte, centro-oeste e sudeste brasileiro têm sofrido nos últimos dias com incêndios e fumaça densa e carregada encobrindo o céu. As imagens chamam a atenção. A principal causa é a forte seca, queimadas – muitas até por ação humana — e além, claro, das mudanças climáticas que trazem eventos extremos.
Mas qual a chance dessa fumaça chegar ao RS? A coluna conversou com o professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS Pedro Maria de Abreu Ferreira.
— Possível é. Dá para dizer que sim. Por que inclusive tem histórico, em 2020 e eu acho que em 2022 também, já aconteceu de chegar a fumaça de incêndios dessa região e de outras também — explica o professor.
Ferreira explica que o grau de intensidade da fumaça que pode chegar ao RS ainda não é possível prever, já que depende de fatores climáticos.
— É importante falar que é bem possível (a chegada da fumaça), porque existe um corredor de circulação atmosférica que é comum. Isso é parte que traz a massa de ar que está lá na Amazônia na nossa direção. E, inclusive, esse movimento atmosférico é responsável por uma coisa bem importante, que é a chuva. Esse movimento natural move os chamados rios aéreos daquela região, trazendo ar úmido para o centro-oeste do Brasil e aqui para o sul do Brasil.
Ele pondera que essa circulação atmosférica é chamada de Massa Equatorial Continental, que vem do Norte para o Sul. O movimento contrário seria a Massa Polar Atlântica, que inclusive leva o frio para o restante do país.
— A ideia é que a circulação atmosférica não é tão simples assim, pois envolve variações, então fica bem difícil de prever se vai vir ou não para o nosso sentido. Mas a configuração atual climática que se tem, pode favorecer a vinda — comenta.
Setembro costuma ser conhecido como um mês chuvoso para o RS, como visto os grandes índices no Vale do Taquari no ano passado. Diante da chuva e a chegada dessa massa de fumaça, apresenta um novo cenário.
— Em princípio, quando se tem essa configuração de fumaça vindo de outros lugares mais distantes e um volume de chuva, talvez o resultado final seja precipitar essa fumaça também. Se a massa de ar com muita fumaça chegasse em uma época muito fria e seca, seria bem ruim, do ponto de vista de doenças respiratórias, de qualidade do ar. Se ela chegar aqui quando já tiver um pouco de chuva, seria menos pior, digamos assim — acrescenta.
Caso realmente chegue a fumaça, explica o professor, a intensidade deve ser em menor escala.
— Se chegar, provavelmente vai chegar num grau bem menor. O que vamos ter, muito provavelmente, é um problema maior dessa questão de ter o sol meio apagado pela fumaça. E talvez um eventual problema de saúde.
A neblina cinza vista em Porto Alegre nas últimas semanas pode ter relação com fumaça oriunda de queimadas do Centro, Norte e até de fora do país.
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