Keir Starmer assume como primeiro-ministro do Reino Unido levando o Partido Trabalhista de volta ao poder depois de 14 anos de hegemonia dos conservadores. É, sem dúvidas, uma mudança de era na política britânica e ocorre em um momento político muito interessante na Europa, quando a extrema direita cresce como força no parlamento europeu como um todo, em vários países - e na França em particular. Independentemente do que ocorrer do outro lado do Canal da Mancha no final de semana (e acredito que o "cordão sanitário" dos partidos de centro vão conseguir barrar, de novo, os radicais do Reagrupamento Nacional), eles já são, hoje, uma força política na Quinta República.
Mas voltemos ao Reino Unido, terra de Sua Majestade. Os trabalhistas estiveram no poder durante 14 anos, entre 1997 e 2010, boa parte desse período sob o comando de Tony Blair. A Guerra do Iraque e a crise econômica de 2008 levaram a um desgaste natural do partido, ao mesmo tempo em que forças conservadoras cresciam no mundo, principalmente devido aos efeitos do colapso nas economias e, no caso europeu, à chegada de imigrantes vindos da África e do Oriente Médio. Nesse ambiente, os britânicos aprovaram o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, mas não foi tão fácil, para os conservadores, levarem a ruptura adiante. Em várias ocasiões, os governos caíram ou quase caíram, que o diga Theresa May. A retirada do bloco europeu, de fato, só se concretizou em 2020.
Outro ponto curioso é o perfil do novo primeiro-ministro, Starmer. Ele foi advogado de direitos humanos, membro dos jovens socialistas do Partido Trabalhista e editor de uma revista trotskista. Vem de uma família de classe média, ou seja, fora dos padrões do establishment político britânico. Mas, para chegar ao poder, precisou deixar de lado esse passado à esquerda - e dar uma guinada ao centro. Já prometeu que não irá deportar os migrantes ilegais para Ruanda, como vinha fazendo o governo conservador, mas deve reforçar as autoridades de fronteira para barrar clandestinos.
Irá implementar uma agenda mais próxima da UE - alinhada, por exemplo, com a criação de um Estado Palestino no Oriente Médio, como parte da solução de dois Estados -, mas não espere um retorno do Reino Unido ao bloco econômico europeu. Como em todo sistema parlamentarista, Starmer sabe que qualquer deslize o tira de Downing Street.