Observadores podem denunciar, ONGs, espernear, e o governo brasileiro tentar ganhar tempo à espera das atas das mesas eleitorais (que, aliás, não aparecerão), mas a verdade é que, daqui algumas horas ou dias, ninguém mais lembrará do arremedo de eleição na Venezuela.
A apatia voltará a tomar conta em um triste processo de naturalização da ditadura bolivariana. Isso até a próxima bravata de Nicolás Maduro, alguma guerra fictícia que inventar nas barbas do Brasil ou uma nova leva de imigrantes venezuelanos, em fuga do regime, transbordar pelas fronteiras. Aí, recomeça o ciclo: mais palavras duras, muita retórica, algumas ameaças. E, logo, o esquecimento.
Infelizmente, é assim: ou alguém lembra que um conflito armado segue em curso na Ucrânia ou entre Israel e o grupo terrorista Hamas?
A confirmação pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da vitória de Maduro na eleição de cartas marcadas de domingo, enquanto pesquisas respeitadas mostravam o líder opositor Edmundo González Urrutia com vantagens superiores a 30% não joga a Venezuela na incerteza. O país sul-americano já vive na incerteza há décadas.
Maduro não fez nada diferente do que o regime vem fazendo há 25 anos: persegue oposição, prende detratores, dificulta a inscrição de candidatos contrários, realiza um pleito de faz-de-conta, dá um verniz democrático, prometendo respeitar o resultado e, depois, decide o mesmo. O rei entronado no Palácio de Miraflores sabe que o mundo, ou a chamada comunidade internacional, esquece rápido. Grita-se por alguns dias, mas logo passa. Virão novas sanções. Mas também em seguida o regime se adapta. Só quem continua sofrendo são os venezuelanos, acossados pela "Revolução" transfigurada em autoritarismo.