Metade da população mundial irá às urnas em 2024, em eleições nacionais e regionais, mas isso não significa que o voto de todo esse contingente de seres humanos terá valor.
Pelo contrário, em alguns dos mais de 50 países que decidirão seus líderes este ano, em pleitos presidenciais ou parlamentares, a disputa tem cartas marcadas. O voto do eleitor não vale nada.
Poderia citar aqui Paquistão, Índia e Bangladesh, países que terão eleições e nos quais a imprensa é censurada e a oposição silenciada. Mas fiquemos com os dois exemplos mais bem acabados de eleições de fachada: Venezuela e Rússia.
No reino bolivariano, Nicolás Maduro, entronado há 12 anos, caminha para mais um mandato. O Tribunal Superior de Justiça, a mais alta Corte do país, encampada pelo Executivo, tem feito de tudo para garantir que o presidente não terá problemas em seu intento: a inabilitação da candidatura de María Corina Machado, confirmada no dia 26, é apenas a face mais visível da ofensiva madurista contra potenciais opositores. Há dezenas de outras tentativas de inscrição impugnadas, entre elas a do popular Henrique Capriles, proibido de ocupar cargos públicos pelos próximos 15 anos.
Na prática, Maduro está limpando o terreno para garantir que a oposição não tenha chance de participar da votação. Assim, ele pavimenta sua permanência no Palácio de Miraflores. Como punição, os Estados Unidos anunciaram, nesta terça-feira (30), que voltarão a impor sanções ao setor de petróleo e gás venezuelanos.
Em tempo: a data da eleição sequer foi marcada, Maduro só tem dito que será este ano. Imagina-se que vai depender de seu humor.
Na Rússia, outro país onde onde haverá eleições "de mentirinha" em 2024, Vladimir Putin foi registrado candidato na segunda-feira (29). Ao menos lá, há data confirmada, entre 15 e 17 de março. Segundo as reformas que empreendeu na Constituição, Putin está apto a disputar mais dois mandatos de seis anos. Ao moldar as regras eleitorais a sua imagem e semelhança, ele poderá permanecer no poder até 2036. Seriam incríveis 37 anos.
Como a máquina de perseguir e envenenar adversários tem girado de forma mais intensa desde o início da guerra na Ucrânia, não será muito difícil para Putin atingir a meta. Aqueles que se opõem a ele, como o candidato Boris Nadezhdin, têm até esta quarta-feira (31) para reunir o número necessário de assinaturas para a candidatura nas eleições. Putin domina o sistema político do país, e, mesmo que alguém consiga o montante, não é difícil adivinhar quem sairá vencedor.