Em uma sociedade cada vez exigente de produtos sustentáveis e com baixa emissão de carbono em seu processo produtivo, a Gerdau, empresa que tem como berço o Rio Grande do Sul, acordou há cerca de quatro anos para a necessidade de elevar as questões ambientais a um novo patamar interno. O tema deixou de ser uma questão apenas de responsabilidade social, mas passou a ser tratado como estratégico para a sustentabilidade do negócio.
- A gente quer ir mais longe e como consegue se manter nesse mundo do aço de forma sustentável, competitiva e sendo a primeira opção do nosso mercado investidor e cliente - conta a gerente-geral de Meio Ambiente da empresa, Cenira Nunes, que discursou, na quarta-feira (6) no painel "Comércio internacional e descarbonização: o impacto do CBAM e do EU-deforestation junto da Confederação Nacional da Indústria (CNI)", no evento realizado pelo setor industrial brasileiro em Dubai, durante a COP28.
Antes da explanação, ela conversou com a coluna.
Como a empresa está se inserindo no debate sobre produção com menos carbono para a chamada transição energética?
O setor do aço faz parte da solução da transição energética, porque é através dele que a gente vai construir energia solar, eólica e carro elétrico. Para a sociedade, ele tem esse papel de descarbonização importante. Mas o aço, em sua produção, emite uma quantidade de CO2 significativa. Sete por cento das emissões globais são do setor siderúrgico. A Gerdau tem uma vantagem: 71% do aço produzido pela empresa é feito através de sucata. É uma reciclagem. A Gerdau é a maior recicladora de sucata da América Latina. Reciclamos 11 milhões de toneladas por ano de sucata. Além disso, 5% da nossa produção utiliza biomassa em substituição ao carvão mineral. Isso significa que a Gerdau tem uma intensidade de emissão de gases de efeito estufa por tonelada de aço produzido inferior à média global. Temos um aço diferenciado para ofertar para a sociedade, para poder fazer essa transição.
Mas como se manter competitivo?
Hoje, as políticas públicas, os regramentos internacionais, vão trazer além da questão ambiental, uma questão comercial. Como as políticas públicas vão interferir na competitividade do aço frente a uma visão de descarbonização. Meu painel é sobre o CBAM (Carbon Border Adjustment Mechanism), uma política pública da UE que visa a precificar o carbono na sua exportação. O Brasil e o aço da Gerdau têm grandes vantagens: uma energia renovável disponível, utilizamos biomassa. Mas precisamos garantir que essas políticas públicas reconheçam isso para que a gente se torne não só uma solução de aço renovável, mas uma solução competitiva. Já está regulamentado esse modelo, onde alguns setores, como aço, cimento e alumínio, ao exportarem para a Europa, terão uma precificação de acordo com sua emissão.
Quais os riscos?
A gente tem vantagens competitivas, mas esse tipo de política pública pode fazer com que aço de alta intensidade (de emissões de CO2), como os asiáticos, passe a sobrar no mercado. E o aço asiático pode inundar países como o Brasil e outros da América Latina. O desafio é não só fazer um aço sustentável, com intensidade baixa de emissão de carbono, mas mantê-lo competitivo. Manter o nosso aço a um valor que se pague todas essas questões de sustentabilidade.
Que oportunidades vocês enxergam nesse momento de transição energética?
Entregar um aço de menor intensidade de emissão a uma sociedade cuja demanda tem crescido. A gente enxerga no nosso mercado consumidor, seja ele automotivo ou construção civil, um interesse, uma busca por um aço diferenciado nas emissões. Isso nos coloca em uma posição de vantagem comparando com nossos concorrentes. Esta na COP faz parte também de uma estratégia da Gerdau de colaboração, de buscar parcerias, de desenvolver novas tecnologias com ainda menor emissão de gases de efeito estufa, para que a gente atenda a essa sociedade que está buscando descarbonização como meta.
Ainda não dá dinheiro?
Ainda não dá. Mas o que temos percebido junto a nossos consumidores é que há um interesse genuíno de conhecer as características do nosso material. A gente tem trabalhado muito com abertura e transparência das informações. Mas, por enquanto, aguardamos uma precificação, uma valorização diferenciada desse aço de menor intensidade.
Em que momento a questão ambiental começou a direcionar negócios na empresa?
A Gerdau tem 123 anos de história e é reconhecida pelas suas características éticas e responsabilidade. A questão ambiental sempre foi intrínseca ao nosso negócio, por meio, por exemplo, de responsabilidade social em relação às comunidades em que a gente atua. Mas a questão ambiental começar a direcionar negócios, a longo prazo, começou a acontecer de forma mais clara, mais objetiva, há cerca de quatro anos, quando o ESG (sigla em inglês de governança ambiental, social e corporativa) tomou conta do mercado financeiro. Aí, passou a ser não só uma questão de ética e de responsabilidade, mas de garantir investidores e uma competitividade diferenciada de longo prazo. Trabalhar sustentabilidade, questões de diversidade e inclusão têm a ver com a sustentação do negócio competitivo a longo prazo no mercado financeiro. A partir dessa mudança, a gente começou a trazer a questão ambiental para um outro patamar de discussão, dentro dos comitês estratégicos de sustentabilidade da empresa, no conselho de administração, sempre olhando onde queríamos ir mais longe e como manter, nesse mundo do aço de forma sustentável, a empresa competitiva e sendo a primeira opção do nosso mercado investidor e cliente.