Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, na manhã desta quinta-feira (7), o comandante do Comando Militar do Sul (CMS), general Hertz Pires do Nascimento, explicou as ações do Exército no resgate às vítimas das enchentes no Vale do Taquari. Mais de 400 militares estão atuando no terreno.
Segundo o comandante, oito aeronaves estão disponíveis para apoiar socorro e a levar ajuda humanitária às vítimas.
Leia os principais trechos da conversa.
Como está sendo feito o trabalho de resgate e apoio? Onde exatamente estão os militares do Exército?
Fruto da experiência do último ciclone, já na segunda-feira colocamos um dispositivo em expectativa e já vínhamos conversando com a defesa civil, particularmente com Brigada Militar e o Corpo de Bombeiros, e nos colocamos à disposição para eventuais solicitações. O governador foi muito feliz ontem (quarta-feira), quando explicou a dificuldade de entender esse fenômeno, que foi realmente inesperado: um volume de chuva concentrado em determinado ponto, um evento inédito no Estado. O Brasil não tem a capacidade de prever, com precisão, a quantidade e o local. Só oito países no mundo têm capacidade de prever um evento catastrófico como esse. Estamos concentrados no Vale do Taquari, basicamente nos municípios de Montenegro, Santa Tereza, Muçum, Encantado, Roca Sales. Logo no início, deslocamos o comandante do 18º Batalhão de Infantaria Motorizada de Sapucaia do Sul para que se juntasse a Lajeado, onde está atuando a Defesa Civil. Já prevendo esse evento, a Força Aérea colocou à disposição uma aeronave Black Hawk. Então, na madrugada de terça para quarta-feira, a Força Aérea voou a noite inteira realizando resgates de pessoas que estavam ilhadas. Esse voo é extremamente complexo, exige tripulações preparadas e tecnologia para observação. Eles rodaram a noite toda, inclusive, tendo de trocar tripulações devido à fadiga do esforço.
Além da aeronave, há pessoas nas cidades?
Temos caminhão distribuindo cestas básicas e já fazendo remoção de entulhos. Enfim, já estamos deslocando mais maquinários que foram solicitados ontem (quarta-feira) pelo próprio governador para que possamos iniciar a limpeza das cidades. Hoje devemos colocar à disposição do Estado um total de oito helicópteros para ajudar em locais que ainda estejam isolados, não só do resgate, mas também para levar suprimentos. Três municípios estão sem comunicação: Muçum, Roca Sales e Encantado. Designei um dos meus batalhões de comunicações, e já está se deslocando para instalar uma capacidade de telefonia nesses três municípios, disponibilizando quatro telefones para cada um deles, 24 horas, para eventuais necessidades. Podem utilizá-los para fazer uma ligação, pedir o socorro.
Houve demora por parte das Forças Armadas para entrarem em operação? O senhor avalia que esse prazo foi adequado entre a prontidão e as tropas chegarem ao terreno?
Tenho certeza. Temos de entender o ciclo de defesa civil, que começa no município. Depois, extrapolada a capacidade do município, são acionados o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil do Estado. Aí, depois desse processo é que nós entramos. Mas eu já estava pronto aqui, aguardando.
Então o senhor acha que esse ciclo poderia ter sido mais rápido para que o resgate das pessoas ocorresse antes?
Não, o principal evento ocorreu de madrugada. Às 23h35min, recebemos o primeiro chamado. Só que o chamado específico não foi de tropa a pé, foi de bote. E esses meus botes estão concentrados nas minhas unidades. O mais próximo está em São Gabriel. Já estávamos lá em condições. E seu eu mandasse para cá, e o evento ocorresse na campanha? Fico no dispositivo de expectativa para atender ao chamado. Essa é a questão.
O senhor acha que poderiam ter sido acionados antes?
Não. Quando ocorreu a necessidade, o governo nos acionou. Quem tinha previsão de que a catástrofe seria exatamente naquele local. Alguém tem bola de cristal para descobrir isso? Não tem. Assim que o fato ocorreu, fomos acionados. Imediatamente, a ordem saiu: "Pode deslocar". Agora, o deslocamento leva um tempo para levar todo aquele material. Um helicóptero não consegue levar, por exemplo, oito botes. Não há como levar oito botes, com tripulação, motor, em uma aeronave e à noite. Isso é uma atividade muito arriscada. Eu poderia até agravar o problema, se acontecesse um acidente. Cito um exemplo do ocorrido com uma aeronave, em que um cabo se rompeu, morreu uma senhora, e temos um policial ferido.
Nos locais onde há dificuldade de acesso por parte dos veículos, vocês têm a possibilidade de projetar algum tipo de estrutura? Equipes de engenharia também estão no terreno?
Não é o momento para fazer isso. Primeiro, estamos fazendo esse socorro, começando a fazer a limpeza, e, depois, vamos verificar. Existem diversos pedidos, diversas passagens foram interrompidas. Mas temos uma limitação. Os nossos meios de passagem, que são utilizados nas nossas operações, têm capacidade de, no máximo, 70 metros. Mais do que isso, não tenho como fazer. Eu cito um exemplo de ocorrido no último evento, em junho, nós tínhamos uma ponte que ficou em um determinado município, com um acordo com o prefeito, para que ficasse por determinado período. O acordo foi renovado, e nenhuma ação foi adotada. Resultado: dei ordem para tirar. E foi sorte, porque eu precisei utilizar mais adiante. Não posso estar lançando os nossos meios e se não houver uma rápida mobilização para a reconstrução. Pelo efeito da catástrofe que estamos visualizando agora, os meus meios são muito limitados para apoiar de imediato. Uma pequena passagem, isso não é problema. Vamos estar apoiando lá para estabelecer a ligação. Isso dá para fazer. Agora, pontes grandes, como aquela que foi levada, não temos capacidade para montar. Estamos muito mobilizados e preocupados. Daí a razão para a necessidade de mais aeronaves. Para que se tenha ideia, a Defesa determinou o cancelamento da apresentação aérea de helicópteros em Brasília para deslocar todo o esforço para cá, para poder apoiar. Não adianta também vir somente uma aeronave, sem a capacidade de voo noturno. Então, mais duas aeronaves de grande porte com capacidade de voo noturno estão chegando hoje (quinta-feira) para ficar à disposição do governo do Estado.
O senhor falou sobre o ciclo de acionamento, citou o governo do Estado, não há risco de sobreposição de ordens com tantas forças atuando ao mesmo tempo?
Ativamos já na segunda-feira o nosso Centro de Coordenação de Operações. Então nós estamos aqui, parte da Marinha e da Força Aérea é coordenada aqui comigo. Temos representantes de cada uma dessas forças aqui no próprio QG. Estamos em ligação direta com a Defesa Civil. Não há sobreposição. Nós atendemos às demandas oriundas da Defesa Civil. Quando ela diz "ok", quando chega o pedido, nós passamos à execução. A centralização do apoio é feita aqui.