Ao chegar à reunião de cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribes (Celac), o ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, minimizou a possibilidade de o Uruguai fechar um acordo de livre-comércio com a China, fato que poderia significar a implosão do Mercosul.
— Não tenho conhecimento dos termos em que está sendo negociado o acordo da China com o Uruguai. Mas esse tipo de coisa não é novo. É uma visita para fortalecer o Mercosul. Acredito que a América do Sul, o destino dela, de sucesso, passa pelo bloco econômico. Quanto a isso, não tenho dúvida nenhuma — disse.
Entretanto, Haddad afirmou que só a partir desta quarta-feira (25), quando o presidente Lula desembarca em Montevidéu, será possível avaliar se o pleito uruguaio é compatível com o resto do Mercosul.
O ministro também destacou o retorno do Brasil à Celac, fórum fundado em 2010 no México com o alinhamento dos países então governados pela esquerda. Em 2020, o governo Jair Bolsonaro retirou o país do fórum, alegando a presença de países governados por ditadores no fórum, caso de Nicarágua, Venezuela e Cuba.
— Apesar da Celac não ser um organismo formal, ele é o único fórum que congrega todos os países, todas as nações da América Latina e do Caribe — disse Haddad.
Depois de confirmar um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder venezuelano Nicolás Maduro cancelou a viagem a Buenos Aires, alegando questões de segurança. A delegação dele disse que haveria um plano para agredi-lo.
Nas últimas semanas, a oposição argentina chegou a pedir a prisão de Maduro, caso ele pisasse na Argentina. O líder nicaraguense Daniel Ortega também não está presente na reunião de cúpula.
A assessoria de Lula confirmou reuniões bilaterais do presidente com o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Qu Dongyu, o presidente de Conselho Europeu, Charles Michel, a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, e o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel.
Para o ministro da Secom, Paulo Pimenta, é importante que Lula tenha feito a agenda sul-americana antes de viajar aos Estados Unidos (prevista para o dia 10 de fevereiro) e à China (em março, ainda sem data):
— Isso sinaliza de forma inequívoca que temos com a América do Sul, América Central, Caribe, com países com os quais temos identidade. Queremos fortalecer as relações comerciais, econômicas e comerciais.
Sobre o possível acordo entre China e Uruguai, Pimenta avaliou ser normal que, diante do que considera a ausência do Brasil de fóruns latino-americanos, países tenham buscado acordos comerciais individualmente, e não em bloco.
— É normal que, nos últimos anos, a pauta do Mercosul, da Unasul e Celac tenha se enfraquecido, com a ausência do Brasil, que os países de forma individual busquem algum tipo de diálogo. A partir do momento em que o Brasil retorna à Celac, que retoma o Mercosul e Unasul com força, é evidente que pela força econômica, política e geográfica, tudo o que o Brasil representa, isso altera o cenário. A gente espera que esse sinal, esse compromisso, seja suficiente para que cada um desses países recoloque o Mercosul como prioridade de suas estratégias econômicas. Queremos dialogar com todos, particularmente com o Uruguai, que é um país tão próximo e tão amigo, para que possamos pensar uma estratégia da região não como uma estratégia individual de cada país, mas como estratégia comum de todo mundo — afirmou.