Circulando pelas ruelas contornadas por casas antigas com telhados triangulares, não é difícil imaginar Przemysl durante a Segunda Guerra Mundial. A batalha pela defesa da cidade começou em 11 de setembro de 1939, quando as tropas nazistas invadiram a Polônia. A resistência à Wehrmacht durou apenas três dias. Em 14 de setembro, Przemysl caiu. Quem diria: hoje, a cidade do sudoeste polonês, com 60 mil habitantes, é cenário de esperança.
É assim que os ucranianos em fuga de outra batalha, a de Kiev, a 650 quilômetros daqui, veem os vizinhos. E nenhum local resume melhor esse sentimento do que a plataforma número 5 da imponente estação central de Przemysl. É ali que desembarcam centenas de refugiados que conseguem embarcar em trens lotados na metrópole da guerra ou em outras cidades ucranianas arrebatadas pelo conflito e unidas pelas estradas de ferro a caminho da Polônia, como Lviv.
Do lado de fora, aos cartazes habituais com boas-vindas na espera por viajantes foi acrescentada outra frase: oferece-se moradia. Ao menos por alguns dias. Muitos voluntários correram à estação em apoio às famílias recém-chegadas. Em frente à plataforma 5, há água e comida.
É no interior do prédio transformado em campo de refugiados às pressas que o drama é mais visível. Há pessoas sentadas ao chão, com cobertores às costas, gente sorvendo sopa sem talheres, no prato mesmo, e crianças em carrinhos com as bochechas rosadas pelo frio aos prantos.
O caos é apenas aparente. Cada sala tem sua função: umas servem de dormitório a mulheres e crianças, em outras há comida quente e apoio médico. Nessa, onde GZH testemunhou pessoas em diferentes situações, ocorre uma espécie de triagem: em mesas improvisadas, funcionários da prefeitura local questionam a situação de cada refugiado. Quem deseja seguir até Varsóvia consegue uma vaga em algum trem próximo, de graça. Basta apenas paciência.
Iryna, 28 anos, está sentada no chão, ao lado da mãe e de uma irmã, que estão nas cadeiras de cor cinza da estação. Os refugiados, em geral, falam pouco com imprensa. Por pressa ou por constrangimento. Iryna diz apenas que chegou em um dos últimos trens que deixaram Kiev.
— Sabe aquele prédio de apartamentos que foi atingido pelas bombas, que apareceu na TV? Era perto do meu — afirma, sem identificar exatamente a qual dos edifícios se refere, uma vez que a Rússia tem, cada vez mais, atingindo empreendimentos civis.
A pedido do governo polonês, o prefeito Wojciech Bakun, como todos os outros do país, teve de designar propriedades como abrigos de emergência. O acolhimento de refugiados é uma política financiada pelo Estado. Em toda a Polônia, vivem cerca de um milhão de ucranianos. Esse fluxo aumentou depois da anexação da Crimeia, em 2014. A expectativa atual é de que esse número dobre com a invasão de 2022.